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  • Dalila Almeida e Kilvia Taligian

XVIII Bienal Internacional do Livro do Ceará

Esse ano, de 16 a 25 de agosto, tivemos mais uma edição da Bienal Internacional do Livro do Ceará. Foram dez dias de intensa atividade dentro e fora do Centro de Eventos. O público que teve a oportunidade de participar em algum momento desse grande evento cultural sem dúvidas lembrará com grande afeição e certamente já espera com ansiedade pela próxima edição, que será em 2021.


A Bienal do livro deixou de ser uma simples feira de livros, para aos poucos se tornar um grande celeiro cultural, visto que num mesmo espaço coexistem de forma às vezes até simbiótica várias vertentes artísticas diferentes, e cada uma com suas cargas culturais muito arraigadas. Durante os dez dias de Bienal as mobilizações dentro e fora do centro de Eventos buscaram aumentar o interesse pela leitura e aproximar os leitores e ainda não leitores desse mundo de desamarras, onde o conhecimento traz mais clareza e liberdade para entender e opinar, de forma crítica e responsável.


Um aspecto importante a ser considerado acerca desse celeiro cultural, é a diversidade dentro do mundo da leitura. A Bienal abraça todas as formas de narrativa e com isso conquista todos os tipos de leitores, desde os mais tradicionais e adultos até os mais contemporâneos e jovens. Tinha de tudo, narrativas e romances em prosa, cordel, HQs e Mangás.


As atrações foram um capítulo à parte, com muita pluralidade e riqueza política, tivemos desde palestras, mesas redondas, apresentação musical e teatral até bate-papos, oficinas, recitais e exposições. Ou seja, tiveram atrações para todos os gostos e costumes.



  • O TEMA


Fonte: Site oficial da Bienal


“A cidade e os livros” foi o tema da XVIII Bienal Internacional do Livro do Ceará. Um tema que trouxe poesia para as relações entre cidades e livros, e ofereceu aos visitantes e fãs do evento uma amplitude de interpretações sobre essas conexões entre cidade e livro. Sobretudo, foi discutido bastante a questão da geografia pessoal que existe em cada cidade, que desperta emoções diferentes em cada pessoa. As cidades guardam nas suas ruas, praças, becos e espaços culturais um conjunto de memórias que influenciaram e influenciam diversos autores e artistas a desenvolverem seus trabalhos carregados de afetos por suas cidades. E essas cidades podem ser desde uma aldeia, uma pequena vila, até mesmo lugares imaginários que acolhe pensamentos e divagações. A ideia de cidade perpassa o estado concreto da palavra e atinge o lúdico.


“A cidade é uma escrita e também uma leitura. Podemos dizer, então, que é um livro”

Fabiano Piúba


Na frase acima, dita pelo secretário de cultura do estado, percebemos claramente uma das relações mais bonitas entre a cidade e os livros. Precisamos aprender a observar as nossas cidades, analisá-las, devorá-las, como costumamos fazer com os livros. Realmente podemos enxergar uma cidade como uma escrita que imprime os costumes, estilos e acontecimentos de um povo. Tudo isso é percebido, por exemplo pelos visitantes, é lido pelos turistas, é um livro mostrando os traços daquela cultura.



  • LA FEMME BOTEAU


Escultura La Femme Boteau

Fonte: https://college.canon.com.br/concursos/fotos/47076



La Femme Boteau, é uma obra do artista Sérvulo Esmeraldo, carregada de poesia e simbologia, que está na identidade visual dessa 13º edição da Bienal do Livro.


Trata-se de uma Obra de arte dentre várias obras do escultor que existem espalhadas pela cidade. Sérvulo Esmeraldo foi um desenhista e escultor nascido no Crato, e que povoou Fortaleza com suas obras de arte cheias de contemporaneidade. A maioria carrega um traço marcante do artista que é a fascinação por formas e simetrias. Um exemplo desse traço pode ser visto na escultura composta por cinco quadrados paralelos, na entrada do Campus do Pici, e também no Monumento ao Interceptor Oceânico situado na praia do Náutico. La Femme Boteau é uma obra importante para Sérvulo, apelidada por ele de “Barquinho”, que diferente da maioria de suas obras , não segue simetrias ou uma ideia mais lógico. Pelo contrário, essa escultura é conhecida por permitir múltiplas interpretações.


Fonte: Foto tirada por Gentil Barreira.



” É uma Femme Bateau cuja missão é nos conduzir com segurança, coragem, fantasia e esperança”

Sérvulo Esmeraldo


Uns enxergam nela um barco soltando fumaça, outros enxergam uma mulher com cabelos voando ao vento, e há aqueles que juram se tratar de uma sereia misteriosa. É uma obra que guarda uma relação afetiva com a cidade, e junto às outras do mesmo autor escreve a capital. Foi feita para ser ancorada na ponte dos Ingleses e ano passado sofreu o terceiro naufrágio, o que causou comoção nas pessoas e meios de comunicação. Talvez por fazer parte da identidade da cidade e da geografia pessoal de muitos Fortalezenses ela tenha causado esse sentimento de união entre mutos.


Após ser encontrada pelo salva-vidas José de Alencar ela foi levada para ser restaurada.


Durante a Bienal foi lançado um livro intitulado La Femme Boteau, composto por uma Coletânea de crônicas, matérias e fotografias publicadas na época do terceiro naufrágio sofrido pela escultura, em março do ano passado.



  • O LER NA BIENAL




Nós do LER marcamos presença em diversos momentos, e pudemos “saborear” muitos espaços disponíveis: desde a emblemática feira de livros, visita ao planetário, encontro de poetas, apresentações teatrais e tantas coisas mais...


Fizemos, no dia 23 de agosto, uma visita super especial, onde na ocasião, o LER disponibilizou um ônibus saindo do Centro de Tecnologia do Campus do Picí e desembarcando direto na Bienal. Foram feitas duas viagens, uma no turno matutino e outra no turno da tarde, dando oportunidade para que os alunos das engenharias pudessem junto conosco vivenciar esse momento que é tão enriquecedor. Abaixo têm o depoimento do aluno Antônio Werleson, falando um pouco da experiência dele no "O LER NA BIENAL".


"Me chamo Antônio Werleson, sou aluno do curso de Engenharia civil e participei da visita à XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará. Apesar de ter o hábito da leitura, nunca havia ido à bienal, pois sempre comprava os livros do meu interesse online ou em outras livrarias. A experiência foi bem interessante, o evento é muito grande e com muitas variedades, possibilitando uma maior dinamização da leitura, pois existem livros dos mais diversos tipos. Durante a visita, pude ver também alguns livros que eu já havia lido e percebi que, desde o começo do ano, já não lia mais com a mesma frequência, e isso se deve a alguns fatores, como a faculdade, as provas e etc. A visita a esse lugar me fez perceber a necessidade de voltar a ler e, além disso, me arriscar em novos tipos de literatura, conhecer um pouco mais de algo que não li antes. A diversidade do local permite que você mergulhe sobre obras completamente diferentes e todas estão ali ao seu redor e ao seu dispor. Ademais, existem também, concomitantes às vendas de livros mais famosos, os lançamentos de livros de escritores da nossa região em geral, e isso é bastante interessante, ter um contato com o autor e apoiá-lo lendo e apreciando sua obra, valorizando a literatura regional. De modo geral, a visita me fez perceber a necessidade de voltar a ter o hábito de ler, que é um hábito que me faz bem, principalmente em um processo de adaptação à universidade, que muitas vezes acaba gerando restrições na minha vida relacionadas ao lazer. A leitura me acompanha há muitos anos e é algo que faz parte de mim e é extremamente gratificante saber que a UFC conta com esse tipo de ação de valorização à cultura."


 


Durante as vezes que passamos pela Bienal também enlaçamos boas conversas com algumas pessoas. Como por exemplo o poeta Carlos Amaro, que tinha como principal atividade no evento trocar abraços por poemas ao som dos doces acordes do violão de Sérgio Magalhães. Carlos Amaro é integrante do grupo “Poetas do Templo”, que é um grupo de poetas, educadores e produtores culturais que, através da doação de parte de seus cachês mantém o espaço cultural Templo da Poesia, no centro de Fortaleza.


O espaço oferece semanalmente atividades à comunidade, tais como: a “Poemoteca”, que disponibiliza livros para quem interessar e “Viagens Poéticas” que leva poesia aos ônibus coletivos de Fortaleza. E aí, você já sabia dessa opção cultural em Fortaleza? No site do Templo da Poesia é possível obter mais informações sobre localização, iniciativas, agenda e participantes.




Conhecemos também um casal de poetas do interior do estado do Ceará que, de chapéu de couro e bom ânimo para conversa nos recebeu muito bem, falamos sobre a importância da leitura, música, representatividade na cultura de cordel...


Ritinha Oliveira (cordelista) e Gilvan Azevedo que dois livros publicados, sendo o seu mais recente (Não Deixe a Chama Apagar) uma leitura muito agradável, com muita poesia, o autor traz em textos breves reflexões sobre amor, relações interpessoais e experiências de vida pessoais. Tudo isso com uma linguagem muito acessível, podendo vir a ser uma boa iniciação no universo da poesia.


Gilvan além de levar seu trabalho para eventos como a Bienal e outros de menor destaque nacional, faz divulgação do seu trabalho em espaços públicos, como escolas, praças ou até mesmo restaurantes. Segundo ele o importante não é ter retorno financeiro, mas sim disseminar o hábito da leitura e o amor pela poesia para o máximo de pessoas que puder. Ser disseminador da cultura regional é algo de que ambos se orgulham muito.


Ritinha nos falou da possibilidade do cordel ser utilizado como ferramenta no processo de alfabetização, por ser esse um gênero que, em geral, é constituído de palavras simples e uma linguagem coloquial, que aproxima o leitor da leitura. Ela também nos falou da importância que tem para ela que as mulheres tenham representatividade nos diversos espaços da sociedade: “Infelizmente tem ainda muitas mulheres que ainda pensam que é do seu ofício os afazeres domésticos, cuidar e educar os filhos. Isso é cultural, típico da sociedade machista. Precisamos desconstruir isso das nossas mentes e mostrar que temos direitos de igualdade e precisamos ocupar todos os espaços da sociedade onde os assentos são destinados majoritariamente aos homens. Precisamos quebrar correntes e romper barreiras.”



Um dos grandes legados desse evento é o contato que ele nos proporciona com o novo, a possibilidade de fazer novas amizades e ampliar sua visão de mundo através dessas visões. Para encerrar, deixamos para vocês um poema de Carlos Amaro.


Viagem

Vou viajar!

Viajar pelo tempo.

Procurar o perdido,

O sonho não sonhado,

O amor não amado,

E quando achá-los,

Vivê-los,

Assim,

Na próxima viagem,

Encontrarei o achado,

O sonho sonhado

O amor amado,

Vivenciados,

Compartilhados,

Enfim,

Realizados.

Carlos Amaro.

Gostou ? Quer escrever pra gente e fazer alguma sugestão de visita cultural ? Manda um email para ler.ufc@gmail.com.


Boa leitura!


Até mais :)


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