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Um espaço dedicado exclusivamente à Literatura e seus encantos. Aqui vamos falar um pouco desse mundo literário, autores e principais obras. 

Louise Glück: a ganhadora do Nobel de Literatura de 2020

Poetisa e ensaísta, a estadunidense Louise Elisabeth Glück foi a décima sexta mulher a ser premiada com o Nobel de Literatura na história. Mesmo com uma carreira consolidada no seu país de origem, não há obras dela traduzidas para o português.


Louise publicou seu primeiro livro, “Firstborn”, em 1968. Desde então, sua obra se espalhou pelas suas aulas, já que se tornou professora de poesia em grandes instituições acadêmicas. Sua literatura é um misto de lírica emocional com reflexões pessoais sobre temas diversos.


Com sua vitória no Nobel, é esperado que seus textos sejam traduzidos e publicados no Brasil. O lirismo e a intensidade da sua obra podem ser analisados por meio das seguintes traduções não-oficiais, que expressam um pouco da identidade da autora.

 

A íris selvagem

No final do meu sofrimento
havia uma saída.

Me ouça bem: aquilo que você chama de morte
eu me recordo.

Mais acima, ruídos, ramos de um pinheiro se movendo.
Então, nada. O sol fraco
cintilando sobre a superfície seca.

É terrível sobreviver
como consciência,
enterrada na terra escura.

Então tudo acabou: aquilo que você teme,

se tornando uma alma e incapaz
de falar, encerrando abruptamente, a terra dura
se inclinando um pouco. E o que pensei serem
pássaros lançando-se em arbustos baixos.

Você que não se lembra
da passagem de outro mundo
eu te digo poderia repetir: aquilo que
retorna do esquecimento retorna
para encontrar uma voz:

do centro de minha vida veio
uma vasta fonte, azul profundo
sombras na água do mar azul.

Traduzido pela desenhista, pintora e tradutora Camila Assad, para o G1.

Gratidão

Não pense que não sou grata por tuas pequenas
gentilezas.
Gosto de pequenas gentilezas.
De fato as prefiro à gentileza mais
substancial, que está sempre a te cravar os olhos,
feito um grande animal sobre o tapete,
até que tua vida inteira se reduza
a nada além de levantar manhã após manhã
embotada, e o sol luminoso rebrilhando em seus caninos.

Tradução de Pedro Gonzaga, poeta e tradutor, retirada da revista de cultura Estado da Arte.

O lírio prateado

As noites ficaram frias de novo, como as noites
de começo de primavera, e quietas de novo. Será
que a conversa te incomoda? Estamos
sozinhos agora; não temos razão para silêncio.

Vês, sobre o jardim — a lua cheia nasce.
Não verei a próxima lua cheia.

Na primavera, quando a lua nascia, significava
que o tempo era infinito. Anêmonas
abriam e fechavam, as sementes
em cachos caíam dos bordos em pálidas lufadas.

Branco sobre branco, a lua nascia sobre o vidoeiro.
E no arco em que a árvore se divide,
folhas dos primeiros narcisos, ao luar
prata-verde-claras.

Juntos, chegamos perto demais do fim para agora
temermos o fim. Nessas noites, não estou nem mesmo certa
de que sei o que significa o fim. E tu, que estiveste
com um homem —
depois dos primeiros gritos,
não faz a alegria, como o medo, barulho algum?

Tradução de Maria Lúcia Milléo Martins, no Jornal Opção

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