Literatura, Engenharia e Reflexões
Diatec-UFC
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Origem
Zzzzzzzz……
Plim, plim,
Plim, plim.
Tic, tac
Tic, tac.
Toc, toc
Toc, toc
Vrum, vrum
Vrum, vrum
Cabum
Crash
Crash
Cabum
Bang, bang
Bang, bang
Big Bang!
Prof. Luís Gonzaga
DIATEC/UFC
Menina dos olhos
Teus olhos
Desvendam meus segredos
Me embriagam em teus pensamentos
Enigma da esfinge,
sou prisioneiro de teus sonhos.
Teus olhos
Lânguidos, são nascentes da sutileza
São como rios de lágrimas
Nas correntezas do desatino,
me levam ao mar da tranquilidade.
Teus olhos
São castanhos ou azul turquesa?
Arco íris, raio de luz policromática
Prisma da beleza
Alegria de viver.
Teus olhos
Me fuzilam como aves de rapina
São como dois sóis da alvorada
São como o bater de assas da borboleta,
cortando o silêncio
daquele primeiro encontro...
Teus olhos
Me guiam na noite escura
Sozinho, procuro um porto seguro...
Desgovernado, sem rumo, barco à deriva
Farol; me levam até você.
Prof. Luís Gonzaga
DIATEC/UFC
Cazuza por ele mesmo
Vamos pedir piedade,
Senhor piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade,
Senhor piedade
Dê-lhes grandeza e um pouco de coragem
Todo dia a insônia me convence que o céu
Faz tudo ficar infinito
E a solidão é pretensão de quem fica
Escondido fazendo fita
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam um país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro
Reparou na inocência cruel das criancinhas
Com seus comentários desconcertantes
Adivinham tudo e sabem que a vida é bela
A vida é bela.
Por onde ando levo ao meu lado
A minha namorada
Cheirosa e bem tratada
Não sei se o nome dela
É Eva ou Adão
É religiosa por formação
A minha culpa de estimação
Grande pátria desimportante
Em nem um instante eu vou te trair
Não, não vou te trair
Brasil mostra a tua cara
Disparo contra o Sol
Sou forte sou por acaso
Minha metralhado cheia de mágoa
Eu sou um cara
Escuta,
eu não posso causar mal nenhum
A não ser a mim mesmo
A não ser a mim mesmo
A não ser a mim
Amor da minha vida
daqui até a eternidade
Nossos destinos foram traçados
na maternidade
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou te cantar
Vou te gritar
Te rebocar do bar
Meu partido é um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito
Senhoras e senhores
Trago boas novas
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
Viva
Vida louca vida
Vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve
Da privada eu vou dar com a minha cara
De panaca pintada no espelho
E me lembrar sorrindo que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados
Flores são flores vivas num jardim
Pessoas são boas já nascem assim
Flores são flores colhidas sem dó
Por alguém que ama e não quer ficar só
Quem tem um sonho não dança
Bete balanço meu amor
Me avise quando for a hora
Não ligue para essas caras tristes
Fingindo que a gente não existe
Sentadas são tão engraçadas
Donas de suas salas
Viver é bom
Nas curvas da estrada
Solidão que nada
Livro depressivo na areia da praia
Meu banco depressivo
Baby, talvez você caia
Na minha rede um dia
Cheia de cacos de vidro
De cacos de vidro
A ponte aérea é o barulho do mar
E as estrelas ainda vão nos mostrar
Que o amor não inviável
Num mundo inacreditável
Dois homens apaixonados
Apaixonados...
Se você quer saber como eu me sinto
Vá a um laboratório ou um labirinto
Seja atropelado por esse trem da morte
Vá ver as cobaias de Deus andando na rua pedindo perdão
Vá a uma igreja qualquer
Lá elas se desfazem em sermão
O menino triste quer ser um herói
Mesmo um herói triste
Mesmo um herói triste
E a dama sem cara de bolsa vazia
Sente um amor aflito
Sente um amor aflito
Para quem não sabe amar
Fica esperando alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Com insetos em volta da lâmpada
Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nessas noites quentes de verão
E nem me importam que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Sempre só
Eu vivo procurando alguém que sofra como eu também
Mais não consigo achar ninguém
Sempre só
E a vida vai seguindo assim
Não tenho quem tem dó de mim
Eu tô chegando ao fim
Senhores deuses me protejam
De tanta mágoa
Estou pronto para ir ao seu encontro
Mas não quero, não vou, não quero
Você nunca sonhou ser currada por animais
Nem transou com cadáveres
Nunca traiu o seu melhor amigo
Nem quis comer a tua mãe
Só as mães são felizes
Trecho de canções de Cazuza
Selecionado por Luís Gonzaga
"Agente junto"
Oi, tá podendo falar?
Nada não, só queria ouvir tua voz
Lembra de tudo que eu te falei
Sobre eu ter sonhos pra nós?
Passei o dia todo pensando
Como eu poderia ser mais veloz
Pra te falar que Resolvi meus problemas, desatei todos meus nós
E te mostrar que com essas cordas, fiz uma ponte pra só ficarmos a sós
Arrumei a mala e a minha vida
na mala não levo a dor
Só os lápis que tu usou pra colorir minh'alma sentida
Lembrei daquilo que a gente tinha planejado
Madrid, Barcelona sempre com teu afago
Lembrei que o nosso "a gente" era sempre escrito junto, nunca separado
Vou voltar pra onde sempre quis estar
Pro seu lado.
Gustavo Castro
Engenharia de Telecomunicações (UFC)
Mandala da Revolução
O que somos nós se não a Imperfeição?
Não somos pré-moldados, de linha de produção
Não somos Máquinas Uniformes, com Peças Uniformes
Não somos Bonecos de Porcelana, Lisos
Com ar insuflado divinamente em nossos pulmões
Somos a Imperfeição, Somos a Diferença
Somos Multicor, Multigênero, Multiforme
Temos Pontas, Temos Arestas
Não somos de Encaixe, Somos Costurados
Somos Seres com Retalhos, de Retalhos
Cada um Com seus Retalhos
Imperfeições, Diferenças, Falhas
Retalhos que são Estrofes, tecidas com o Verso mais Fino
E cada Remendo, Cada Estrofe, constrói uma Poesia
Uma Poesia que narra nossa Vida
Esses Retalhos nos Costuram, nos Compõem, nos Vestem
Fazem parte de Nós
Quadriculados, Listados, Retalhos Vermelhos
Fazem Vestidos, Blusas , Coxas
Mas no nosso caso Fazem Mandalas, Mandalas Vermelhas
Logo, nós somos uma Poesia em Forma de Mandala
Escrita a Sangue
Mandala que Busca a Essência, Mandala que Busca a Mudança
Porque somos Mandala
Mas também somos Mandela
Orfeu de Avalon
Engenharia de Computação
Um Oásis no CT
Lembro como se fosse hoje quando o Luis chegou pra mim dizendo que queria montar um clube de leitura no CT.
Eu:
- Leitura? Tipo literatura mesmo?
Ele:
- Sim, isso mesmo. E aqui no CT, pros alunos de Engenharia e quem mais quiser. E a gente podia fazer uma estante colaborativa ali perto da cantina. As pessoas deixariam livros que já leram e pegariam outros. Que tal?
Achei sensacional. Sempre imaginei se um dia ia ver o CT se abrindo para atividades mais culturais e reflexivas. E o LER é exatamente isso: literatura, engenharia e reflexão. Um cantinho precioso para matarmos a sede. Um oásis de palavras e poesia no CT. E de viagens, porque no LER a gente sempre viaja.
Às vezes eu fico me perguntando porque participei de tão poucas edições do projeto. Muitas vezes quando lembrava que era dia de sessão, já tinha marcado uma segunda chamada ou estava em alguma reunião maluca dessas que marcamos na hora do almoço pra dar certo com os horários de todo mundo. Agora que perdemos essa linda opção, de estarmos juntos, lendo presencialmente, sinto falta.
Mas ainda assim, só tenho boas lembranças dos momentos que vivi ali. E dentre tantas memórias doces, lembro particularmente de um dia muito especial em que o LER foi convidado a participar de uma iniciativa da Biblioteca Universitária da UFC, o evento Livros Livres. Era uma sexta-feira, 31 de maio de 2019, bem na hora da aula da minha turma de Tecnologia e Sociedade. Quando eu soube, fiquei me perguntando como faria para conciliar as duas coisas, no mesmo horário.
A resposta não foi difícil de encontrar: Tecnologia e Sociedade é uma disciplina de libertação do espírito. O objetivo é dar aos alunos a oportunidade de vivenciar experiências imersivas que os permita observar o mundo com outros olhos e perceber os impactos tecnológicos na vida das pessoas de uma forma crítica. Ou seja, é uma disciplina de humanização da Engenharia.
Sendo assim, nada mais justo do que proporcionar uma tarde de poesia e arte para essa meninada tão amarrada pelo Cálculo, a Física e as Ciências “duras” em geral. E que tarde meus amigos! Para começar, assistimos a uma apresentação do grupo Verso de Boca, um lindo projeto de extensão da UFC que nos brindou com declamações teatrais de músicas e poemas belíssimos. A tarde fluiu mansa, mas cheia de emoção.
E já no fim, tive um estalo. Não podia deixá-los sair dali sem uma provocação. Então soltei:
- Pessoal, agora é a vez de vocês: como tarefa de hoje vocês deverão compartilhar com a turma um poema ou texto em prosa de sua preferência, e não esqueça de indicar a fonte (autor e obra).
Para a minha surpresa, recebi vários textos deliciosos: de Pablo Neruda a Eduardo Galeano, e até várias produções autorais. É incrível quando nos damos conta que, mesmo imersos nas profundezas de uma graduação em Engenharia, não deixamos nunca nossa essência, a humana. E a arte (a literatura em particular) tem esse fantástico poder sobre nós, o de revelar nosso lado mais humano.
Obrigado LER.
Estêvão Rolim Fernandes
Professor associado do DIATEC/CT-UFC
Fortaleza Líquida
Se você tem condições diárias de tomar dois banhos, beber dois litros de água, usar roupas limpas, fazer cinco refeições...você é um privilegiado! Pois então falaremos sobre pessoas que não têm nada: os líquidos e a população de rua é o tema da nossa prosa.
Nos últimos dias, as chuvas do caju e a minha busca pelo conhecimento levaram-me ao encontro do conceito de modernidade líquida que expõe como as atuais relações sociais, econômicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis como os líquidos. Tal qual o cotidiano da população de rua onde tudo é instantâneo e volátil.
Nas ruas, praças, entidades e instituições são servidos: café, chafé, chás, leite (em pó, de caixinha), chocolate quente, achocolatado, Nescau, toddynho, espoca-buchos (refrigerantes, refrigerecos), sucos (naturais, polpas, artificiais); água mineral (natural, congelada, fluidificada, com gás, torneiral); dindim, mingau de milho com queijo, sopas, canjas, caldos e, se faltar um pouco de sabor, sempre tem alguém com sal, cebola, e o molho de pimenta para emprestar. A escassez e experiência da vida faz com que tenhamos uma biblioteca gustativa excelente. E nunca, nunca mesmo, o doador pode ser desrespeitado, caso contrário o agressor terá que arcar com as consequências.
Quanto às bebidas alcoólicas, a cachaça (“buchudinha”, “celular”) e o álcool de posto de combustível têm preferência. Enganam a fome, são baratas e garantem a lombra.
Nos finais de semana, a dinâmica muda, e durante feriados, principalmente Carnaval, a coisa fica dramática; os doadores viajam e a fome e a sede assolam. O único doador infalível é a sopa da HapVida, 365 dias no ano. Mas em situações extremas, aparece um doador de Fiat branco, que joga um monte de garrafa com água congelada e sai às pressas. Preciso lembrar da “torneira amiga” do posto de gasolina, do Corpo de Bombeiros lá no Jacarecanga e das barracas de praia. Mais uma vez é preciso lembrar que não temos banheiros públicos em Fortaleza e que as mulheres são as que mais encontram dificuldades para manter a higiene em dia. É possível viver limpo na rua, mas requer estratégias diferentes das comuns a quem leva uma vida caótica.
As entidades e instituições procuram atender a fome e sede desta população e assim como somos monitorados por elas , monitoramos também: elaboramos, entre nós, uma eleição, um Oscar dos produtos e serviços de todas elas: o melhor café, o melhor banho, o melhor banheiro, a melhor reza, o melhor local para guardar documentos, a melhor merenda e por aí vai! Logicamente, não publicaremos aqui para evitar melindres e represálias!
A combinação entre água de chuveiro, lágrimas e Aseptol deixa meus olhos vermelhos e as suspeitas aumentam, pois não tenho colírio e nem uso óculos escuros!
Cheers!
Carlota Camburão
Artista
Sonhos
O menino distraído deixou escapar seu lindo balão azul
Sobe, sobe, sobe balão
Levando consigo os sonhos do menino ...
O menino então cresceu, se fez homem.
Um belo dia, seu filho nasceu;
Ao vê-lo no berço, percebeu que havia
um lindo balão azul amarrado sobre ele ...
Nesse instante o homem se fez menino, e disse:
Obrigado por transformar meu sonho em realidade.
Tu és meu filho
E um dia há de voar também!
Prof. Luís Gonzaga
DIATEC/UFC
[O QUE A PLANTINHA DA JANELA ME ENSINOU]
A plantinha da minha janela tem uns hábitos interessantes. A começar que ela acorda com os primeiros raios de sol e fica se preparando para se exibir, o que só ocorre lá pelas oito da manhã (daí eu acho ela um pouco vaidosa); mas quando ela percebe que o sol está sumindo no poente ela já vai dormir! O expediente acabou! (Sim, ela só se exibe em horário comercial). Ainda bem que ela dá o ar da graça aos fins de semana e feriados também, os dias seriam muito sem graça sem ela.
Ela também é vulnerável. Tem uns bichinhos que "matam" os botões...
Mas o que eu acho interessante mesmo é que cada florzinha só abre uma vez! Por isso eu já vou desculpando a vaidade dela, só vai abrir uma vez, tem que caprichar.
Pois bem, a cada dia as flores do dia anterior estão lá, murchas.
O que eu aprendi com a plantinha? Que se eu tirar os botões murchos ou "furados" pelos bichinhos, outros botões aparecem mais rápido! Além de que, às vezes as flores murchas caem por cima das folhas deixando o ramo meio murcho (acredito que interfere no processo de fotossíntese)...
De novo: o que eu aprendi com a plantinha? Que às vezes a gente insiste em uma coisa que não tem volta nem jeito, quando deveríamos fazer um esforço para reparar o "erro" o mais rápido possível, parece que dói mas depois percebo que fiz o que era para ser feito.
Com a plantinha eu já faço esses reparos com extrema facilidade, e o resultado é que ela fica ainda mais bonita!
Dalila Almeida do Nascimento
Curso de engenharia civil da UFC
MEU QUARTO VIROU SALA DE AULA
Nunca uma frase de Cervantes fez tanto sentido...
Em meio ao caos da pandemia, fui convidada a dar aulas preparatórias para o ENEM e meu amor pela docência não poderia negar este desafio. Em menos de uma semana, a ideia já estava posta em prática e um grande misto de sensações me arrebatou. Me veio um frio na barriga por estar a mais de 2 anos sem dar aula, uma nostalgia por me ver refletida em meus alunos e uma vontade tremenda de fazer a diferença, de ajudá-los a realizar sonhos. Afinal, a educação é a maior arma contra a desigualdade social, seu poder de transformação é encantador, ela deixa marcas, assim como essas da lousa, que não se apagam. E com essa arma eu assumo a batalha em meu nome e em nome de quem aceitar caminhar comigo na luta pela educação. Vamos mudar o mundo?
Tereza Lopes
Meu irmão, vou falar pra você
tu tem noção do que é olhar no espelho e não conseguir se ver
se sentir completamente nu
no sentido de viver
tu se esforçar, se esforçar, se esforçar
pra no final, depois de tanto nadar
tu morrer no meio do mar
não se sentir amado, não sentir acolhido, não se sentir escolhido
pois afinal, todos somos humanos
todos precisamos de um porto-seguro
para não corrermos perigo, de um dia bater no muro
todos precisam se amar, apaixonar
senão, do que vai adiantar?
sei lá, trabalhar, beijar, namorar, brincar, jogar, transar
de que adianta tanto verbo, se no meio desses não tiver um “ amar “
não tô falando de amor carnal, nem passional, tô falando de todo tipo de amor
ame tudo, um jogo, um time, uma música ou uma flor
não importa
só deixe o amor bater a sua porta
pois sem ele
nada mais importa
E se sua vontade de acabar
For maior que a vontade de amar
Se você gritar dor
Ao invés de amor
Se algo tem dando errado demais
E certo de menos
E se a resposta de tudo
Estiver naquilo que não vemos
Temos que deixar de julgar
E começar a entender e interpretar
Fazer se sentir incluído
Aquele que se sente excluído
Deixar de fingir que algumas pessoas só existem em seus aniversários
Deixar de pensar que todo mundo é seu adversário
Chega até a ser hilário
O quanto as coisas tem acontecido ao contrário
Como eleger um líder opressor
Ao invés de um educador
Parece que o pessoal não sabe que todo mundo tem o sangue da mesma cor
É sério, não sei pra quê tanto rancor
Pessoal botando mais fé em pastor
Do que em si mesmo, ou no senhor
Dando razão a ignorância e a arrogância
Acho que o pessoal tá deixando de querer juntar alianças
E começando a amar matanças
Se esquecendo que o futuro são as crianças
Você vê que tá tudo errado
Quando uma mina da valor a um cara, só pelo fato dele ser educado
Por causa de tanto retardado
Tentando fazer um lance forçado
Quem dera fosse um lance de 3 pontos na cesta
Mas na verdade, tá mais pra um lance de 3 pontos na testa
Então, o que nos resta?
Sofrer e aceitar...
Ou correr atrás e lutar?
Lucas Freire
A rezadeira, ave-maria!
Se inicia o dia, 5h30 para ser mais exato, ela vai com seu terço em mãos, multicolorido, vestido branco com vermelho ou é vermelho com branco? Não sei te dizer, meditação ela não sabe o que é isso garoto, nunca soube, mas o faz constantemente, como Maria, mãe de nosso Senhor Jesus Cristo, ela reza e reza, por ele, por ela que passa, mas nunca, para ela mesmo. Ah, se eu pudesses entender, a tamanha devoção de tal mulher, de tal senhora, que desde a mocidade, prática o ato de rezar, ensinado pela mãe e pelo pai, a todo momento só tende a rezar, pedir e agradecer, por mim, por ela, por ele, por ti, mas nunca pra si. Exemplo de humanidade te digo, primeira defensora dos direitos humanos, que pede a Deus nosso Senhor, mas quem rezas por ela? Quem pedes por ela? Se tu perguntais não sei, mas sei que és o primeiro exemplo de caridade que tenho em minha efêmera existência. Maria deve olhar do céu, e rogar de perto essas mulheres, essas senhoras maltratadas pelo tempo, pelo trabalho, pelos homens. Quem sabes um dia, entendereis o que é esse sublime papel na sociedade, mas por enquanto não, egoísta que sou, dificilmente entenderei, apenas escreverei, para um dia poder dizer eu rezarei por ti meu filho.
Kaio Rodrigues
Elevante
Essa história vou contar sem pressa
Eu vi um elefante numa peça
Peça sem roteiro, eu passageiro
Errava aos montes sem ter soprador
Mais estudava, mais era amador
E ora o elefante, ora a dor
Se instalavam sobre quem aqui fala
Orador, às vezes, um grande mala
Esperava aplausos grande elefante
Ou parava com tudo, alucinante
A peça exigia moderação
Mas eu pecava sempre por excesso
Ficava a chorar ou ver elefante
Mas tem um ponto que talvez encante
Porque nesse mesmo teatro vi
Quando cheguei ao penúltimo ato
Um sabiá surgir lindo e sensato
Em contraceno à forma exuberante
Enquanto o sabiá voava simples
Servíamos a peça, em nuances
Sinceridade em cada marcação
Quando terminávamos cenas juntos
Sabiá era minha fina estrada
Eu não esperava aplauso nem nada.
Bea M.
O QUE SIGNIFICA DEPENDER DE POLÍTICOS.
Se eu tivesse que lhe dar um conselho, seria o mais simples. Não dependa de políticos! Uma vez minha mãe me disse que o melhor a se fazer era estudar bastante e me formar "porque alguém que ficava parado em uma cidade pequena como está vive dependendo de políticos". Eu, apesar de toda minha ingenuidade e da mais profunda ignorância, já sabia o que isso significava.
Depender de políticos significa que para você conseguir um bom emprego tem que correr atrás de cabide na prefeitura, que significa ter que bajular vereadores e prefeito que venceram a última eleição, que significa a cada 4 anos ter que balançar bandeira em nome de um partido que pouco conhece ou acredita, que significa entrar em uma fila de carros e motos junto a pessoas que estão em prol do mesmo significado; que significa se manter por 4 anos refém de uma causa que nunca existiu dentro de ti, que significa ter que viver durante 4 anos sobre o medo, a pressão, a tutela daqueles que te colocaram naquele local, que significa ser um peão em uma tabuleiro de xadrez pronto para ser sacrificado em nome da vitória, do jogo, da política, dos homens bons e da fila de eleitores que votaram no vencedor da eleição, e que quão grande é essa fila, atrás de emprego para ter que se manter por mais 4 anos, com a pressão, com o medo, com a causa, que significa perder a singularidade, viver as sobras de alguém, não emitir opinião adversa, e ter que balançar positivamente com a cabeça em tudo que lhe dizem, que significa nunca discordar, nunca dizer não, mesmo que isso possa prejudicar quem ama, que significa não viver o você, não viver suas crenças, não viver suas verdades.
Tudo isso, para ter por mais 4 anos, uma bandeira a balançar, uma opinião a engasgar, uma pressão a viver no emprego de trabalhar. Lutando pela causa, em prol de um significado, que pouco tem importância ou realmente significa algo, que vai se perdendo na dependência, entre as filas de carros, no meio da multidão, entre as bandeiras, entre as promessas, entre os significados, que vai se perdendo, e que se perda, e que se perda a vida, cheia de “contrários” que se reduz ao seu significado.
Yago Juan - estudante de engenharia civil UFC
Prosa Social
Consciencia
A gente e o que a gente pensa
Nao seja mais um hipocrita
e nao aja pela aparencia
Nossas acoes tem consequencia
Mas as vezes somos produtos de politicos sem coerencia
De um Estado em decadencia
De empresarios sem descencia
De uma midia mentirosa que manipula pela audiencia
E agora, em meio a crise, querem acabar com a previdencia
Essa e' a resultante de agir quando nao pensa.
Os de amarelo bateram panelas,
mas na rua nao ha presenca
Em um momento em que a uniao,
seria a solucao plena
So a esquerda se apresenta,
mas a revolucao e lenta
Pra chegarmos a plenitude eis aqui a minha sentenca:
Desigualdade em todo lugar
E a elite sempre no luxo
Assim nao pode continuar
Muitos com pouco e poucos com muito
Isso e' justo?
Nao na minha concepcao
Como pode pedir riquezas,
sendo voce um mero cristao?
Pelas porta do ceu, ricos
nao passarao
Passarinho s(a)o aqueles com amor no coracao
Respeito e compaixao
Se Jesus tanto me ama,
o certo e' me respeitar entao!
E irmao, uma coisa eu lhe aviso: igreja nao e' terminal pra vender passagem pro paraiso
E ainda tem esses politicos
que pensam que sao deus
pra aclamar morte a bandido: pois va entao matar os teus.
Que os meus ja estao morrendo,
pelas ruas da minha cidade,
seja bandido, estudante ou filho,
Morrem sem dignidade
Nas maos de agentes covardes, e com baixa remuneracao
Como posso culpar a policia se o estado nao estende a mao
Impondo a eles uma situcao: se nao ha dinheiro e treinamento, o que, enfim, eles farao?
Farao o que todos fariam, pois somos mais do que a mesma sopa,
A situacao faz a moral e o resto que se exploda...
Karim Sutter - Aluno de engenharia da UFC
Outras Virão
Tudo estava árido e amargo
Naquele Outono as flores não caiam
Elas simplesmente despencavam das árvores
E quando despencavam estavam tão tristes e amargas
Que pareciam até desesperançosas
Desesperançosas não porque não haveriam outras oportunidades de florir
Mas porque elas se entristeciam
Mesmo sabendo que outras estações estavam por vir
Dentre tantas outras que virão
Elas se entristeciam porque sabiam que justamente outras viriam e novamente teriam que despencar
No entanto, naquele momento elas simplesmente queriam permanecer naquela estação
Sem razão...
Sem apologia...
Sem explicação...
Puramente haviam se apaixonado pelo clima, a insolação, o calor... Pelo Sol daquele verão.
Do Valman - Aluno da UFC
Viveria na Alegoria
Ninguém sabe se a morte
É a continuação da vida
Ou um sono indefinido
Na esperança de acordar
Ou seria recomeço
Do sofrimento dos homens livres
Quem se apegam ao Sensível
Em detrimento do sonhar
Prendido em uma caverna
Mas tão próximos das Ideias
Apegado aos seus medos
Acorrentado um ao outro
Então sairia
Visitaria o Intelingível
Procuraria o inexplicável
E voltaria ao Sensível
Poderiamos nos libertar
Eles estariam tão apegados
Mesmo por todo meu falar
Seria taxado por mentira
Então me mataria
Pelo medo do desacorrentar
Do Valman - Aluno da UFC
Odisseia
Ovo
Casa
Cidade
Casca
Terra
Buraco
Coração
Corpo
Esfera
Útero
Cabeça
Abraço
Cólon
Mão
Núcleo
Barco
Casulo
Banheiro
Boca
Mala
Prisão
Banco
Cubo
Armário
Ninho
Escola
Gaveta
Caixão
Luís Gonzaga - Professor da UFC
Ensaio de um livro qualquer
Errou, todos erram, então concluiu que seu erro era justo, ora meu amigo, não ver que errar é humano! Olhou para o próximo como se fosse vencedor de um julgamento em um tribunal, e ali estava com um olhar triste, não de vencido, mas de desapontado, e finalmente, com um momento com o seu eu, percebeu que todas suas conclusões estavam erradas.... Uma voz, muito além do seu encéfalo, gritava: talvez não seja um crime para os homens, mas existem erros que são crimes contra a própria alma. E ele saia como se tivesse sentenciado sua própria pena. Era culpado de um crime que não cometeu contra ninguém, mas contra ele mesmo.
Do Valman - Aluno da UFC
Mais um dia triste
Era um dia triste
Ele chorava aos prantos
Cada gota que caia batia na janela do meu quarto
Enquanto acompanhava o ritmo dos meus pensamentos
Ouço raios
Ouço trovões
Ouço o barulho do chover
Ouço os meus questionamentos
Ouço minha dúvida de viver
Olho do lado de fora para a janela
Então eu me pergunto
Será se deus está cego?
Será se deus está surdo?
Por que existe tanta maldade?
Por que estamos nesse mundo?
Por que o dia está chorando?
Por que o dia está triste?
Por que estamos infelizes nessa terra de fantasia?
Quem inventou a tristeza?
Quem contou a mentira?
Seria eu o cego?
Seria eu o surdo?
Seria eu o criador da minha Dor e agonia?
Jogado no chão estava...
Enquanto meu sangue fervido escorria
Já estava morto na janela do sétimo andar
Pulou por pura euforia
Não morreu com aquela queda
Mas nascia um suicida
Do Valman - Aluno da UFC
As Ligas Bodo
O sol apaga-se
Entra a noite
Clareada pelo tiros de uma 12
Flores que se corta
Morta pra lembrar do morto
Outro que saiu na hora errada
Outro que não volta mais pra casa
Outro que rodeados de loucos que dizem tudo mas não pensam nada
Pá e é mais um preto no chão
Fuzilado pelo Estado de exceção
Se for branco, tudo bom
Se for negro ou pobre, que pelo pão faz o corre, é caixão
O som da arma que não para
O tiro que em 1 segundo mata
E na razão do Estado que cala
Que não for elite é barata
Já nesse campo de extermínio
Porque nisso o Estado é exímio
Em matar preto e massacrar índio
Roubar nossas terras e dá pros gringos
Que eu me vejo não mais indo
Mas voltando, porque dessa merda eu to saindo
Fugindo da maioria que grita
Que coage, condena e generaliza
Exigindo paz onde a morte se banaliza
Onde dignidade é só história e a dor é a premissa
E você até pode dizer que é birra
Mas onde chove sangue, chove mirra
Sangue que brota das feridas
Infeccionadas que se alastram entre as minorias
Todavia, ainda hão de se amar qualquer dia
E Prefiro não pensar que é uma utopia
Mas sim, uma meta de vida.
Karim Sutter - Aluno de Engenharia Ambiental
Carl Sagan e Belchior sob um céu iluminado
Quando ele percebeu já estava longe da multidão. Atrás dele só as luzes explodindo no céu e a gritaria das pessoas. Mais um ano terminava e outro começava. Para ele, não passava de um fenômeno tão antigo quantos as rochas que ele já havia visto e lido. Decidiu caminhar mais um pouco e olhar o céu. Ele estava lindo, parecia um dia de domingo ensolarado, brilhando como o sorriso sincero de uma criança. Mas algo o lhe perturbava, algo dentro o incomodava. Seja lá o que fosse, tinha a ver com uma velha frase que um velho bêbado havia dito "cada ser humano é um universo em si mesmo". Ele se sentia assim, um universo, que todo dia tinha uma supernova por acontecer. Deu um último gole no vinho barato e assim decidiu mais uma vez que como o cearense bigodudo de Sobral sempre lhe lembrava "ano passado eu morri, mas esse ano não morro" seguiria em frente, pronto pra mais uma volta.
Diego Ferreira da Silva - aluno de Geologia, UFC
Outro João
Mataram o João, mataram a sangue frio.
Tudo isso por uma CG velha e mais 30 reais que recusou entregar.
- Mas por que ele não entregou de mão beijada?
Era pro leite das crianças, homi!
Bateram nele, cuspiram na cara, chamaram de vagabundo e deram 2 tiros. Um pela moto e outro pelos 30 reais.
- Esse joão era o moto táxi?
Não, esse morreu na semana passada, quando tentaram roubar a moto dele.
Mataram o joão quando ele vinha do serviço!
- Esse joão era o da padaria?
Não, esse também tinha uma CG, morreu segunda feira, quando assaltaram a padaria.
- Esse joão era o vigia da escola?
Não, morreu também na segunda quando invadiram a escola
O joão que estou falando era pai de família.
- Esse joão era o marido da Dona Maria?
Não, esse morreu na terça, invadiram sua casa, ele reagiu e os bandidos não pouparam.
O joão que estou falando parecia com muita gente
- Esse joão era o que vivia ali na esquina?
Não, esse também foi assassinado, confundiram com outro João, também inocente.
O joão que estou falando morreu hoje
- Esse joão é o que trabalha no lava-jato?
Não, esse também morreu hoje, mas desse só levaram 15 reis.
Hoje as crianças desse ai também vão ficar sem leite
- Esse joão era o que trabalhava de cobrador?
Não esse morreu de tarde, mas desse daí não levaram nada, foi uma discussão com um cliente da loja
O joão que estou falando era meu amigo
- Esse joão era o ajudante de pedreiro?
Sim, era esse mesmo. Pobre joão, talvez tivesse sido melhor ter trocado de nome. O tanto que avisei, e acontece uma desgraça dessas.
Era um coitado, tudo por sua motiha, sua única motinha, que ralou o ano inteiro pra compra-la. Não queria que levassem seus 30 reais suados, seus únicos 30 reais do dia inteiro de serviço no sol quente, por isso que lutou bravamente, e agora levaram sua vida. Pobre joão, até pegaram o criminoso, justiça seja feita: para o assassino, um hotel cinco estrelas, com cama para dormir, comida de graça, visita intima e um salário por mês, para a vítima, meu amigo joão, um paletó de madeira, muito choro, algumas velas acesas, e uma viúva com cinco filhos.
Pobre joão no meio de tantos outros joãos, que estão também para morrer como joãos ninguém, só esperando sua hora chegar, não entendo o porquê disso. Eu avisei que mudasse de nome. Olha, acabaram de Matar mais outro joão, agora de bala perdida. O tanto que te avisei, estão matando um joão atrás do outro, mas você não me ouviu. Antes de morrer seu nome era João de Souza Pereira dos Santos, hoje, chamasse: estatística. Pobre amigo joão.
Do Valman - aluno da UFC
A Cidade Subterrânea
Em sua mente, o silêncio era quase absoluto, se não fosse pela sua própria voz. “Tão grandes”, pensou, olhando para a grama sob seus pés. “Mas, ao mesmo tempo, tão pequenos”, tornou a olhar para o céu estrelado. Ergueu as mãos até um ponto onde pudesse ver a peça que segurava. Era plana, rígida como madeira, mas pesada como metal. Cheirava a queimado e estava quente. “Uma cidade em chamas”, pensou tristemente, porque era com isso que aquela placa mãe queimada parecia.
Agachou-se sobre a grama e puxou a pazinha de jardinagem do bolso de trás da calça, fincando-a na terra. Ele não a puxou de volta, como faria para cavar. Em vez disso, olhou para a peça que começava a esfriar e imaginou que aquilo se tornaria numa cidade subterrânea e em ruínas. “Mas eu posso recriá-la”. Largou a pá ali mesmo e voltou para dentro de casa. Entrou em seu quarto imaginando-se um engenheiro, um arquiteto. Sentado em uma cadeira, olhava a cidade com cheiro de queimada sobre a escrivaninha como se olhasse para seu maior projeto, seu sonho. Podia ser pequeno em suas mãos, mas era imensurável em sua mente. Criaria a cidade perfeita e estava decidido.
Quando acordou no dia seguinte, segurava uma chave de fenda em uma das mãos e um pano que cheirava a ferrugem na outra. Da placa mãe só restava uma placa verde. Todas as minúsculas pecinhas haviam sido removidas e colocadas em um vidro, para que fossem remontadas depois. O cheiro de queimado desaparecera. Procurou por toda a casa, então, por aparelhos eletrônicos quebrados, porque percebeu que a placa mãe sozinha era pequena. Foram poucas as peças que encontrou, mas as encaixou todas ao redor da placa mãe, sobre uma folha de isopor. Aquilo seria o centro de sua cidade.
Por tempos, aquelas foras as únicas peças de sua criação. Ele as montou e remontou, fazendo as melhores combinações possíveis. Imaginava os prédios, as vias de acesso, todas as estruturas. Via-se pequeno ao ponto de poder viver ali. Ainda assim, sentia que aquilo não era suficiente, que sua cidade poderia ser maior. Começou a sair de casa, dirigindo até os lixões e aterros sanitários locais e vasculhando todos os lugares à procura de novas estruturas para sua cidade, que se tornava metrópole. Seu projeto arquitetônico cresceu, e, ao final de um ano, o espaço de seu quarto já não era mais suficiente. Ele passou-o para a garagem.
Num certo ponto, parou de adicionar peças e tornou a simplesmente observar tudo aquilo. Analisou todo seu trabalho da forma mais crítica que conseguiu. Seu sonho estava finalmente ali. Era sublime, quase perfeito. Quase, porque só faltava uma única coisa: a vida. Aquela foi a questão que fez todo o seu projeto parecer inútil, pois estava incompleto, e, de certa forma, morto. Aquela falta era um grande problema, e ele, como criador, não sabia como resolvê-lo. Todos os dias, debruçava-se sobre seu sonho, pensando profundamente, procurando um solução, mas não a encontrava. Seus olhos fitavam o teto de seu quarto, semanas depois, quando, no ápice de sua melancolia, um pensamento mórbido ocorreu-lhe. Desenhou num pedaço de papel sua ideia e levou-a a um marceneiro. Teria de esperar até o dia seguinte para que se tornasse real.
Sua ânsia era grande, ele não pôde ficar parado, simplesmente esperando. Antes de receber sua encomenda no dia seguinte, já preparara o local: cavara um buraco de boas dimensões em seu quintal e comprara alguns tapetes de grama, precisaria deles ao final de tudo. O centro do local escolhido era onde um dia fincara uma pazinha de jardinagem.Encaixou sua ideia de madeira no buraco que abrira, parte por parte, forrando-o completamente. O cheiro de serragem com terra molhada que subiu foi bom. Ele inalou aquele aroma e parou um pouco, absorto, olhando para o fundo do buraco.
Passou as costas da mão em sua testa, enxugando o suor e parecendo lembrar-se novamente do motivo de estar ali. Entrou em sua garagem e parou de frente para sua construção. Tinha em seu semblante o olhar mais triste que alguém poderia ter. Sua cidade era grande. Foi preciso dividi-la em cinco partes para carregá-la até o buraco. A última delas a ser levada foi a matriz, o centro. Encaixou-a às outras no fundo do caixote de madeira. Olhou para aquilo e inspirou profundamente. A cidade subterrânea crescera, afinal. Debaixo de um céu estrelado como na noite em que estivera ali para enterrar uma placa mãe queimada, ele encaixou a tampa do caixote de madeira e despejou terra sobre ele até que não pudesse mais ser visto. Então, ao final, colocou os tapetes de grama sobre a terra remexida.
A tristeza o atingia em outro ápice. Sentia-se como um errante, sem uma parte de si mesmo, pois não sabia o que havia a fazer agora. Esperaria, aquela era sua única certeza, por tempo indeterminado. O frio noturno levou-o para dentro de casa. Ele tomou um banho e deitou-se. Dormiu e sonhou que estava em sua cidade, mas não percebeu o que havia de mais novo e notório: os habitantes. Era um sonho legítimo, então tudo parecia certo até o momento de acordar.
Foi nesse momento que um sorriso alargou-se de uma ponta a outra de seu rosto. Pena que aquilo não durou muito, pois logo voltou à realidade, e apenas uma noite se passara desde o enterro. Tinha de admitir que não esperara por toda aquela agonia, pensara que seria muito mais fácil de suportar. Mas, agora, o que havia por fazer? Tinha de encontrar algo para ajudá-lo a parar de pensar naquilo.
Passou a ler, a sair mais de casa. Não foi fácil no início, mas, depois, começou a ser bem efetivo. Adorava tomar café com chantilly enquanto lia um bom livro na livraria. Sua cidade foi realmente sendo esquecida aos poucos, sob a terra, isolada em um caixão de madeira, até que só fosse parte de sua memória, e não mais de sua vida. E, mesmo estando ali, ele não se lembrou dela. O tempo passou e foi mais do que o necessário. A madeira de uma caixa umedeceu, e, em seu interior, uma cidade criou vida, mas não uma vida qualquer.
Algum dia, talvez, se alguém chegasse a violar aquela tumba, maravilhar-se-ia com tal vista. Veria a mais perfeita cidade subterrânea, cheia de musgos e com cogumelos em alguns pontos, cheia de vida da mais simples forma, esquecida pelo próprio criador. Não era mais uma tumba, era um sonho na realidade, mas seu idealizador estava bem longe dali, segurando duas coisas: um livro e uma xícara de café.
Pedro Ignácio- aluno de Engenharia Civil da UFC
Destinos
A ana
A cama
A lama
A dama
A trama
A fama
A grama
A grana
A joana
O pijama
O telegrama
O teledrama
O dia
A pia
A jia
A lia
A mia
A mio pia
A ave maria
A carestia
A blenorragia
O mijo
O risco
O lixo
O cisco
O disco
O visgo
O musgo
O lusco
O fusco
O fico
O chico
O fuxico
O fusca
O faísca
O dentista
O desejo
O realejo
O sobejo
O recado
O pecado
O sobrado
O menino
O destino
O pepino
O poema
O fonema
O teorema
A alegria
A azia
A anemia
A vida
A ida
A subida
A morte
A sorte
A glote
Luís Gonzaga- Professor da UFC
Carros Amarelos
Quando trafego pela minha cidade, costumo ver pouquíssimos carros amarelos a transitar pelo caótico labirinto. Meu pai tinha um carro amarelo, um corcel 1976, amarelo augusta. Nome estranho, gostaria de saber de qual Augusta o amarelo herdou essa atípica denominação. Certa vez, perguntei-me qual a probabilidade de sair pelas ruas e ver apenas carros amarelos em trânsito. Ri da minha absurda ideia, visto que a mesma tinha uma surreal incongruência. Depois, franzi o cenho e me a flagrei tentar mensurar tal malfadada probabilidade. Teria de saber o tamanho da frota de carros, e, em especial, o porte da frota de carros amarelos. Não bastaria apenas dividir esses dois valores, eu precisaria mensurar também a probabilidade dos carros das demais cores não saírem de suas garagens nesse atípico dia. Não sabia como delinear tal espaço amostral. Não entendia se precisaria usar probabilidade condicional ou a regra de Bayes. Depois de vagas e inúteis tentativas de calcular essa insólita probabilidade, desisti desse desafio. Alguns dias passaram sem que eu recorresse nessa infrutífera seara. Num dia qualquer, acordei cedo e dirigi-me ao subsolo, para guiar meu carro, que não é amarelo, mas bege. Estranhamente, não haviam outros carros no subsolo, a não ser meu carro bege. Subi a ladeira, saí pelo portão, e não vi outros carros acostados no logradouro ou a transitar. A urbe estava cadavérica, sem veículos, transeuntes, ciclistas ou animais a vagar pelas ruas. Apenas eu e meu reluzente carro bege, a velejar sob o sol bravio. Repentinamente, avistei uma horda de carros a se engarrafar, de forma acachapante, nas ruas. Para minha surpresa, todos os carros eram amarelos. A avenida Santos Dumont estava repleta, em todas as suas faixas, de carros amarelos. Até a faixa exclusiva para ônibus estava ocupada por carros amarelos. Apenas um veículo estava a ferir essa lógica: meu singelo carro bege.
Bruno Prata- Professor da UFC
A Armadura de Pelinhos
Tinha oito anos de idade, um metro e vinte e cinco, mas se sentia um gingante. Estava feliz, aparecia bem ali, no meio de suas narinas, o seu primeiro pelinho, barba, era uma barba. Agora ele já poderia usar gilete, igual ao seu pai. No entanto, preferiu deixa-la, faltava pouco para aparentar ser os piratas que tanto admirava.
Era um garoto esperto, cheio de traquinagem. Outra vez, roubou a cortina do quarto de seus pais, e fez um grande castelo. Cabia tudo lá dentro, seus amigos, suas armas, suas cartinhas do yu gi oh, a sua felicidade. E mais pelinhos crescia entre suas narinas.
Fazia bonecos com as coisas mais absurdas, a gaiola velha de passarinhos se tornava a bastilha da revolução, a garrafa de café, um robô de sangue escuro. Roubou os pregadores de roupa da lavanderia, e todos se transformaram em armas, naves espaciais e bonecos. Fazia isso todos os dias, e quando notou, outro pelinho havia crescido, já se sentia um adolescente.
Costumava mostra aos adultos todas suas invenções, mas eles não entendiam suas obras de arte, falavam: Isso e só uma cortina em cima de cadeiras, isso é só uma garrafa e uma gaiola velha, esses pregadores só são pregadores, eita menino traquino. E outro pelinho nascia em baixo de suas narinas.
Já não brincava mais com seus bonecos, sua vida agora era correr na rua, se sentia o flash, dizia isso para todo mundo, e os adultos falavam, você não é herói, é só um garoto correndo feito doido pela rua, deixe de correria e de ser besta também. E outro pelinho crescia entre suas narinas.
Parou de correr, pegou a vassoura dentro de casa, e não sabia se transformava ela em um cavalo, uma arma ou um cajado. Isso é só uma vassoura, dizia outro adulto. A vassoura se tornava apenas vassoura, não era mais cavalo, arma ou cajado, era apenas uma vassoura, cada vez menos outra coisa, apenas vassoura. E mais um pelinho crescia entre suas narinas
Ganhou seu primeiro videogame, escolhia sempre o carro vermelho, era o piloto mais veloz do mundo, mesmo chegando sempre em segundo lugar. Os adultos falavam que ele não era o melhor em nada, e mais uma vez, deixa de ser besta menino. E outro pelinho crescia entre suas narinas.
Havia na escola sua primeira namoradinha, já não gostava mais de bonecos, de barracas, e de brincar na rua, ou pelo menos fingia não gostar, e pelo visto, fingia muito bem. A sociedade forçava ser cada vez mais maduro, a escola forçava trocar os brinquedos por cadernos. E mais pelinhos crescia entre suas narinas.
Na escola era trabalhos, em casa mais trabalhos, era preparado para entrar na faculdade, trabalhos, provas, trabalhos. Nenhuma cortinas era mais castelo, seu universo era o computador. As redes sociais, era sua rua, mas postar textão não era tão divertido quanto correr na rua.
Enfim, faculdade, agora não era mais criança, era só trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho. E mais pelinhos crescia, não apenas em suas narinas, mas em todo o seu rosto.
Ser pirata não apresentava graça nenhuma, tinha que tirar todos os pelinhos, e como era chato ter que tirar todos esses pelinhos! E mais pelinhos cresciam. E a sociedade forçava que esses pelinhos ficassem no seu rosto. E mais pelinhos cresciam.
Fim de faculdade, e sua vida agora era finalmente trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho. E pelinhos cresciam.
Casou, agora sua namoradinha era sua mulher. E agora era só mais trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho. E pelinhos cresciam.
Sua mulher estava gravida, era um menino traquino que ia nascer. E agora mesmo que tinha que trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar. E pelinhos cresciam, não adiantava mais tirar esses pelinhos deveriam ficar para sempre. E mais pelinhos cresciam.
Era um adulto completo, sua vida estava longe de qualquer felicidade imaginativa, nada de criatividade, apenas trabalho. E quando menos esperava seu filho nasceu, já começava suas primeiras traquinagens, roubava cortinas, gaiola velhas, garrafa de café e pregadores. E ele dizia, deixa de ser traquino menino, essa cortina não é castelo essa garrafa não é robô e muito menos essa gaiola é a bastilha. Vassoura é só vassoura, não é cavalo, nem arma, nem cajado, apenas vassoura. E pelinhos nasciam entre as narinas de seu filho.
Mas aos 30 anos de idade, em sua rede social, ao trocar a foto do perfil no dia das crianças, por uma de quando tinha 8 anos e um metro e vinte e cinco de altura, viu o quão gingante era. Mas tudo aquilo era passado, já não importava mais. O que resta agora, é seguir o modismo das redes. E mais pelinhos cresciam, muito mais.
Finalmente, ao caducar e questionar a vida adulta, observou através do seus próprios olhos como os adultos veem o mundo, ao olhar para o seu filho com seus amigos, suas armas, suas cartinhas do yu gi oh e toda àquela felicidade dentro de uma cortina pequena em cima das cadeiras, tudo se transformou. Cortina era castelo, vassoura era cavalo sim, era arma, era cajado! Tudo que olhava tinha vários formatos, e sua infância voltava mais viva, mas calejada da vida adulta. E aquela armadura adulta de pelinhos, entre o seu rosto, caiu - Bash bow - voltava a enxergar a vida como ela é de verdade, criativa, imaginativa, divertida, era criança novamente.
Do Valman - Aluno da UFC
Reflexões
De frente para o espelho ...
Vejo as simetrias de meu rosto e assimetrias de minha alma
Vejo narciso no olhar estático da medusa
Vejo pássaros de cristais voando no infinito do sonho
Vejo o não querendo dizer sim
Vejo Alice conversando com Clarice
Vejo o passado refletindo o futuro
Vejo Roma ardendo em chamas de amoR
Vejo o velho no sorriso da criança
Vejo girassóis de barro no solo árido do meu coração
Vejo o dia querendo ser noite
Vejo a vida aprisionada no enigma do tempo
Vejo o amor voando livre como nuvem
Vejo as verdades despidas de mentiras
Vejo a matéria na anti – matéria do meu ser
Luís Gonzaga- Professor da UFC
Demolição
Conhecimento é claro,
A noite é escura.
O branco é sábio,
A negritude perdura.
Desigualdade social, poucos brancos são atingidos,
Negros, os mais vividos, são os menos ouvidos.
O branco, o drama sofisticado, de quem pode comprar,
O negro, o drama marcado, de quem pode chorar.
Em 1888 o País mostrou o seu racismo disfarçado.
Os negros foram libertos da escravidão e postos à própria sorte.
Sem auxílio nenhum, com a vida nas mãos do Deus Zumbi,
De educação, saúde, os seus palmares eram desprovidos.
O racismo é escuro,
O preconceito é claro.
O branco criou novos muros,
O negro continua acorrentado.
João Victor Morel - Aluno do Colégio 7 de Setembro .
Por baixo da pele, é tudo a mesma coisa
Dentre todas as formas de preconceito o racismo é a mais antiga. Os escravos, quando alforriados, foram “largados” às margens da sociedade, sendo as vítimas pioneiras do preconceito racial. Pela aristocracia branca, eles sofriam discriminação e não tinham permissão para frequentar os mesmo locais que os brancos. Fato que se repetiu séculos depois durante o Apartheid, ocorrido na África no século XX, caracterizado por ser um regime de segregação racial extremamente violento e radical que teve fim através da luta de Nelson Mandela, falecido em 2013.
Apesar desses regimes de segregação terem tido fins oficiais, eles ainda continuam ocorrendo de forma implícita. Isso pode ser constatado através da proibição dos polêmicos “rolezinhos”, onde jovens, de maioria negra, se reuniam em shoppings. Fato que constrangia os frequentadores de, digamos, maior poder aquisitivo do local.
Outro exemplo de discriminação, dessa vez explícita, é o preconceito racial que ocorre no esporte, ato que já se tornou modismo em todo mundo, mas que ocorre frequentemente na Europa. Fato que chama a atenção, visto que são os países mais desenvolvidos do mundo, com Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) mais altos do planeta. O que por fim prova que o pensamento da raça branca como superior não se dissipou totalmente da mente europeia.
O Brasil, país detentor da maior diversidade étnico-racial do mundo, tem grande responsabilidade na luta pelo preconceito, não apenas no esporte mas na sociedade como um todo. Por isso, sociedade e Estado devem se tornar agentes de combate ao preconceito através de campanhas de conscientização em todos os meios de comunicação, principalmente na internet, o melhor meio de dispersão de ideias existente.
O fato de o racismo ter sido considerado crime hediondo e inafiançável foi um grande passo do Estado e uma vitória da sociedade, porém nem todos os indivíduos que praticam o crime são punidos de forma efetiva, muitas vezes porque não são denunciados. Por isso, a criação de um disque denúncia através da abertura de páginas nas redes sociais poderá auxiliar na aplicação da lei e na melhor comunicação entre governo e sociedade.
Mariana Campos - Aluna da UFC.