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Envie para ler.ufc@gmail.com

Origem

 

Zzzzzzzz…… 

 

Plim, plim,

Plim, plim.

 

Tic, tac

Tic, tac.

 

Toc, toc

Toc, toc

 

Vrum, vrum

Vrum, vrum

 

Cabum

Crash 

Crash

Cabum

 

Bang, bang

Bang, bang

 

Big Bang!

 

 

Prof. Luís Gonzaga

DIATEC/UFC

 

 

 

Menina dos olhos

 

Teus olhos

Desvendam meus segredos

Me embriagam em teus pensamentos

Enigma da esfinge,

sou prisioneiro de teus sonhos.

 

Teus olhos

Lânguidos, são nascentes da sutileza

São como rios de lágrimas

Nas correntezas do desatino,

me levam ao mar da tranquilidade.

 

Teus olhos

São castanhos ou azul turquesa?

Arco íris, raio de luz policromática

Prisma da beleza

Alegria de viver.

 

Teus olhos

Me fuzilam como aves de rapina

São como dois sóis da alvorada

São como o bater de assas da borboleta,

cortando o silêncio 

daquele primeiro encontro...

 

Teus olhos

Me guiam na noite escura

Sozinho, procuro um porto seguro...

Desgovernado, sem rumo, barco à deriva

Farol; me levam até você.

 

Prof. Luís Gonzaga

DIATEC/UFC

Cazuza por ele mesmo

 

 

Vamos pedir piedade,

Senhor piedade

Pra essa gente careta e covarde

Vamos pedir piedade,

Senhor piedade

Dê-lhes grandeza e um pouco de coragem

 

Todo dia a insônia me convence que o céu

Faz tudo ficar infinito

E a solidão é pretensão de quem fica

Escondido fazendo fita

 

Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro

Transformam um país inteiro num puteiro

Pois assim se ganha mais dinheiro

 

Reparou na inocência cruel das criancinhas

Com seus comentários desconcertantes

Adivinham tudo e sabem que a vida é bela

A vida é bela.

 

Por onde ando levo ao meu lado

A minha namorada

Cheirosa e bem tratada

Não sei se o nome dela

É Eva ou Adão

É religiosa por formação

A minha culpa de estimação

 

Grande pátria desimportante

Em nem um instante eu vou te trair

Não, não vou te trair

Brasil mostra a tua cara

 

Disparo contra o Sol

Sou forte sou por acaso

Minha metralhado cheia de mágoa

Eu sou um cara

 

Escuta,

eu não posso causar mal nenhum

A não ser a mim mesmo

A não ser a mim mesmo

A não ser a mim

 

 

 

 

Amor da minha vida

daqui até a eternidade

Nossos destinos foram traçados

na maternidade

 

Eu ando tão down

Eu ando tão down

Outra vez vou te cantar

Vou te gritar

Te rebocar do bar

 

Meu partido é um coração partido

E as ilusões estão todas perdidas

Os meus sonhos foram todos vendidos

Tão barato que eu nem acredito

Eu nem acredito

 

Senhoras e senhores

Trago boas novas

Eu vi a cara da morte

E ela estava viva

Viva

 

Vida louca vida

Vida breve

Já que eu não posso te levar

Quero que você me leve

 

Da privada eu vou dar com a minha cara

De panaca pintada no espelho

E me lembrar sorrindo que o banheiro

É a igreja de todos os bêbados

 

Flores são flores vivas num jardim

Pessoas são boas já nascem assim

Flores são flores colhidas sem dó

Por alguém que ama e não quer ficar só

 

Quem tem um sonho não dança

Bete balanço meu amor

Me avise quando for a hora

 

Não ligue para essas caras tristes

Fingindo que a gente não existe

Sentadas são tão engraçadas

Donas de suas salas

 

Viver é bom

Nas curvas da estrada

Solidão que nada

 

 

 

Livro depressivo na areia da praia

Meu banco depressivo

Baby, talvez você caia

Na minha rede um dia

Cheia de cacos de vidro

De cacos de vidro

 

 

A ponte aérea é o barulho do mar

E as estrelas ainda vão nos mostrar

Que o amor não inviável

Num mundo inacreditável

Dois homens apaixonados

Apaixonados...

 

Se você quer saber como eu me sinto

Vá a um laboratório ou um labirinto

Seja atropelado por esse trem da morte

Vá ver as cobaias de Deus andando na rua pedindo perdão

Vá a uma igreja qualquer

Lá elas se desfazem em sermão

 

O menino triste quer ser um herói

Mesmo um herói triste

Mesmo um herói triste

E a dama sem cara de bolsa vazia

Sente um amor aflito

Sente um amor aflito

 

Para quem não sabe amar

Fica esperando alguém que caiba no seu sonho

Como varizes que vão aumentando

Com insetos em volta da lâmpada

 

Eu não sei o que o meu corpo abriga

Nessas noites quentes de verão

E nem me importam que mil raios partam

Qualquer sentido vago de razão

Eu ando tão down

Eu ando tão down

 

 

Sempre só

Eu vivo procurando alguém que sofra como eu também

Mais não consigo achar ninguém

Sempre só

E a vida vai seguindo assim

Não tenho quem tem dó de mim

Eu tô chegando ao fim

 

 

Senhores deuses me protejam

De tanta mágoa

Estou pronto para ir ao seu encontro

Mas não quero, não vou, não quero

 

Você nunca sonhou ser currada por animais

Nem transou com cadáveres

Nunca traiu o seu melhor amigo

Nem quis comer a tua mãe

Só as mães são felizes

Trecho de canções de Cazuza

Selecionado por Luís Gonzaga


"Agente junto"

 

Oi, tá podendo falar?

Nada não, só queria ouvir tua voz

 

Lembra de tudo que eu te falei

Sobre eu ter sonhos pra nós?

 

Passei o dia todo pensando

Como eu poderia ser mais veloz

 

Pra te falar que Resolvi meus problemas, desatei todos meus nós

 

E te mostrar que com essas cordas, fiz uma ponte pra só ficarmos a sós

 

Arrumei a mala e a minha vida

na mala não levo a dor

 

Só os lápis que tu usou pra colorir minh'alma sentida

 

Lembrei daquilo que a gente tinha planejado 

 

Madrid, Barcelona sempre com teu afago

Lembrei que o nosso "a gente" era sempre escrito junto, nunca separado

 

Vou voltar pra onde sempre quis estar 

Pro seu lado.

 

Gustavo Castro

Engenharia de Telecomunicações (UFC)

 

 

Mandala da Revolução

 

O que somos nós se não a Imperfeição?

Não somos pré-moldados, de linha de produção

Não somos Máquinas Uniformes, com Peças Uniformes

Não somos Bonecos de Porcelana, Lisos

Com ar insuflado divinamente em nossos pulmões

 

Somos a Imperfeição, Somos a Diferença

Somos Multicor, Multigênero, Multiforme

Temos Pontas, Temos Arestas

Não somos de Encaixe, Somos Costurados

Somos Seres com Retalhos, de Retalhos

 

Cada um Com seus Retalhos

Imperfeições, Diferenças, Falhas

Retalhos que são Estrofes, tecidas com o Verso mais Fino

E cada Remendo, Cada Estrofe, constrói uma Poesia

Uma Poesia que narra nossa Vida

 

Esses Retalhos nos Costuram, nos Compõem, nos Vestem

Fazem parte de Nós

Quadriculados, Listados, Retalhos Vermelhos

Fazem Vestidos, Blusas , Coxas

Mas no nosso caso Fazem Mandalas, Mandalas Vermelhas

 

Logo, nós somos uma Poesia em Forma de Mandala

Escrita a Sangue

Mandala que Busca a Essência, Mandala que Busca a Mudança

Porque somos Mandala

Mas também somos Mandela

 

Orfeu de Avalon

 Engenharia de Computação

 

 

 

Um Oásis no CT

 

Lembro como se fosse hoje quando o Luis chegou pra mim dizendo que queria montar um clube de leitura no CT.

Eu:

- Leitura? Tipo literatura mesmo?

Ele:

- Sim, isso mesmo. E aqui no CT, pros alunos de Engenharia e quem mais quiser. E a gente podia fazer uma estante colaborativa ali perto da cantina. As pessoas deixariam livros que já leram e pegariam outros. Que tal?

 

Achei sensacional. Sempre imaginei se um dia ia ver o CT se abrindo para atividades mais culturais e reflexivas. E o LER é exatamente isso: literatura, engenharia e reflexão. Um cantinho precioso para matarmos a sede. Um oásis de palavras e poesia no CT. E de viagens, porque no LER a gente sempre viaja.

 

Às vezes eu fico me perguntando porque participei de tão poucas edições do projeto. Muitas vezes quando lembrava que era dia de sessão, já tinha marcado uma segunda chamada ou estava em alguma reunião maluca dessas que marcamos na hora do almoço pra dar certo com os horários de todo mundo. Agora que perdemos essa linda opção, de estarmos juntos, lendo presencialmente, sinto falta.

 

Mas ainda assim, só tenho boas lembranças dos momentos que vivi ali. E dentre tantas memórias doces, lembro particularmente de um dia muito especial em que o LER foi convidado a participar de uma iniciativa da Biblioteca Universitária da UFC, o evento Livros Livres. Era uma sexta-feira, 31 de maio de 2019, bem na hora da aula da minha turma de Tecnologia e Sociedade. Quando eu soube, fiquei me perguntando como faria para conciliar as duas coisas, no mesmo horário.

 

A resposta não foi difícil de encontrar: Tecnologia e Sociedade é uma disciplina de libertação do espírito. O objetivo é dar aos alunos a oportunidade de vivenciar experiências imersivas que os permita observar o mundo com outros olhos e perceber os impactos tecnológicos na vida das pessoas de uma forma crítica. Ou seja, é uma disciplina de humanização da Engenharia.

 

Sendo assim, nada mais justo do que proporcionar uma tarde de poesia e arte para essa meninada tão amarrada pelo Cálculo, a Física e as Ciências “duras” em geral. E que tarde meus amigos! Para começar, assistimos a uma apresentação do grupo Verso de Boca, um lindo projeto de extensão da UFC que nos brindou com declamações teatrais de músicas e poemas belíssimos. A tarde fluiu mansa, mas cheia de emoção.

 

E já no fim, tive um estalo. Não podia deixá-los sair dali sem uma provocação. Então soltei:

- Pessoal, agora é a vez de vocês: como tarefa de hoje vocês deverão compartilhar com a turma um poema ou texto em prosa de sua preferência, e não esqueça de indicar a fonte (autor e obra).

 

Para a minha surpresa, recebi vários textos deliciosos: de Pablo Neruda a Eduardo Galeano, e até várias produções autorais. É incrível quando nos damos conta que, mesmo imersos nas profundezas de uma graduação em Engenharia, não deixamos nunca nossa essência, a humana. E a arte (a literatura em particular) tem esse fantástico poder sobre nós, o de revelar nosso lado mais humano.

 

Obrigado LER.

Estêvão Rolim Fernandes

Professor associado do DIATEC/CT-UFC

 

 

 

Fortaleza Líquida

Se você tem condições diárias de tomar dois banhos, beber dois litros de água, usar roupas limpas, fazer cinco refeições...você é um privilegiado! Pois então falaremos sobre pessoas que não têm nada: os líquidos e a população de rua é o tema da nossa prosa.

Nos últimos dias, as chuvas do caju e a minha busca pelo conhecimento levaram-me ao encontro do conceito de modernidade líquida que expõe como as atuais relações sociais, econômicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis como os líquidos. Tal qual o cotidiano da população de rua onde tudo é instantâneo e volátil.

Nas ruas, praças, entidades e instituições são servidos:  café, chafé, chás, leite (em pó, de caixinha), chocolate quente, achocolatado, Nescau, toddynho, espoca-buchos (refrigerantes, refrigerecos), sucos (naturais, polpas, artificiais); água mineral (natural, congelada, fluidificada, com  gás,  torneiral); dindim, mingau de milho com queijo, sopas, canjas, caldos e, se  faltar   um pouco de  sabor, sempre tem alguém com sal, cebola, e o molho de  pimenta para  emprestar. A escassez e experiência da vida faz com que tenhamos uma biblioteca gustativa excelente. E nunca, nunca mesmo, o doador pode ser desrespeitado, caso contrário o agressor terá que arcar com as consequências.

Quanto às bebidas alcoólicas, a cachaça (“buchudinha”, “celular”) e o álcool de posto de combustível têm preferência.  Enganam a fome, são baratas e garantem a lombra.

Nos finais de semana, a dinâmica muda, e durante feriados, principalmente Carnaval, a coisa fica dramática; os doadores viajam e a fome e a sede assolam. O único doador infalível é a sopa da HapVida, 365 dias no ano. Mas em situações extremas, aparece um doador de Fiat branco, que joga um monte de garrafa com água congelada e sai às pressas. Preciso lembrar da “torneira amiga” do posto de gasolina, do Corpo de Bombeiros lá no Jacarecanga e das barracas de praia. Mais uma vez é preciso lembrar que não temos banheiros públicos em Fortaleza e que as mulheres são as que mais encontram dificuldades para manter a higiene em dia. É possível viver limpo na rua, mas requer estratégias diferentes das comuns a quem leva uma vida caótica.

As  entidades e  instituições  procuram atender  a fome e sede desta população  e assim  como somos  monitorados por  elas , monitoramos  também:  elaboramos, entre nós, uma  eleição, um Oscar dos  produtos e  serviços de  todas elas: o melhor café, o  melhor  banho,  o melhor  banheiro, a  melhor reza, o  melhor local  para  guardar  documentos, a  melhor merenda e  por aí vai! Logicamente, não publicaremos aqui para evitar melindres e represálias!

 A combinação entre água de chuveiro, lágrimas e Aseptol deixa meus olhos vermelhos e as suspeitas aumentam, pois não tenho colírio e nem uso óculos escuros!

Cheers!

Carlota Camburão

Artista

Sonhos

 

O menino distraído deixou escapar seu lindo balão azul

Sobe, sobe, sobe balão

Levando consigo os sonhos do menino ...

 

O menino então cresceu, se fez homem.

Um belo dia, seu filho nasceu;

Ao vê-lo no berço, percebeu que havia

um lindo balão azul amarrado sobre ele ...

 

Nesse instante o homem se fez menino, e disse:

Obrigado por transformar meu sonho em realidade.

Tu és meu filho

E um dia há de voar também!

 

Prof. Luís Gonzaga

DIATEC/UFC

 

 

[O QUE A PLANTINHA DA JANELA ME ENSINOU]

 

A plantinha da minha janela tem uns hábitos interessantes. A começar que ela acorda com os primeiros raios de sol e fica se preparando para se exibir,  o que só ocorre lá pelas oito da manhã (daí eu acho ela um pouco vaidosa); mas quando ela percebe que o sol está sumindo no poente ela já vai dormir! O expediente acabou! (Sim, ela só se exibe em horário comercial). Ainda bem que ela dá o ar da graça aos fins de semana e feriados também, os dias seriam muito sem graça sem ela.

Ela também é vulnerável. Tem uns bichinhos que "matam" os botões...

Mas o que eu acho interessante mesmo é que cada florzinha só abre uma vez! Por isso eu já vou desculpando a vaidade dela, só vai abrir uma vez, tem que caprichar.

Pois bem, a cada dia as flores do dia anterior estão lá, murchas.

O que eu aprendi com a plantinha? Que se eu tirar os botões murchos ou "furados" pelos bichinhos, outros botões aparecem mais rápido! Além de que, às vezes as flores murchas caem por cima das folhas deixando o ramo meio murcho (acredito que interfere no processo de fotossíntese)...

 

De novo: o que eu aprendi com a plantinha? Que às vezes a gente insiste em uma coisa que não tem volta nem jeito, quando deveríamos fazer um esforço para reparar o "erro" o mais rápido possível, parece que dói mas depois percebo que fiz o que era para ser feito.

 

Com a plantinha eu já faço esses reparos com extrema facilidade, e o resultado é que ela fica ainda mais bonita!

Dalila Almeida do Nascimento

Curso de engenharia civil da UFC

MEU QUARTO VIROU SALA DE AULA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nunca uma frase de Cervantes fez tanto sentido...

Em meio ao caos da pandemia, fui convidada a dar aulas preparatórias para o ENEM e meu amor pela docência não poderia negar este desafio. Em menos de uma semana, a ideia já estava posta em prática e um grande misto de sensações me arrebatou. Me veio um frio na barriga por estar a mais de 2 anos sem dar aula, uma nostalgia por me ver refletida em meus alunos e uma vontade tremenda de fazer a diferença, de ajudá-los a realizar sonhos. Afinal, a educação é a maior arma contra a desigualdade social, seu poder de transformação é encantador, ela deixa marcas, assim como essas da lousa, que não se apagam. E com essa arma eu assumo a batalha em meu nome e em nome de quem aceitar caminhar comigo na luta pela educação. Vamos mudar o mundo?

Tereza Lopes

 

 

 

Meu irmão, vou falar pra você 

tu tem noção do que é olhar no espelho e não conseguir se ver

se sentir completamente nu

no sentido de viver

tu se esforçar, se esforçar, se esforçar 

pra no final, depois de tanto nadar

tu morrer no meio do mar

não se sentir amado, não sentir acolhido, não se sentir escolhido 

pois afinal, todos somos humanos

todos precisamos de um porto-seguro

para não corrermos perigo, de um dia bater no muro

todos precisam se amar, apaixonar

senão, do que vai adiantar? 

sei lá, trabalhar, beijar, namorar, brincar, jogar, transar

de que adianta tanto verbo, se no meio desses não tiver um “ amar “

não tô falando de amor carnal, nem passional, tô falando de todo tipo de amor

ame tudo, um jogo, um time, uma música ou uma flor

não importa

só deixe o amor bater a sua porta

pois sem ele

nada mais importa

 

 

E se sua vontade de acabar 

For maior que a vontade de amar

Se você gritar dor

Ao invés de amor 

Se algo tem dando errado demais

E certo de menos

E se a resposta de tudo

Estiver naquilo que não vemos

Temos que deixar de julgar

E começar a entender e interpretar 

Fazer se sentir incluído 

Aquele que se sente excluído 

Deixar de fingir que algumas pessoas só existem em seus aniversários 

Deixar de pensar que todo mundo é seu adversário 

Chega até a ser hilário 

O quanto as coisas tem acontecido ao contrário 

Como eleger um líder opressor

Ao invés de um educador

Parece que o pessoal não sabe que todo mundo tem o sangue da mesma cor

É sério, não sei pra quê tanto rancor

Pessoal botando mais fé em pastor

Do que em si mesmo, ou no senhor

Dando razão a ignorância e a arrogância 

Acho que o pessoal tá deixando de querer juntar alianças

E começando a amar matanças 

Se esquecendo que o futuro são as crianças 

Você vê que tá tudo errado

Quando uma mina da valor a um cara, só pelo fato dele ser educado

Por causa de tanto retardado

Tentando fazer um lance forçado 

Quem dera fosse um lance de 3 pontos na cesta

Mas na verdade, tá mais pra um lance de 3 pontos na testa

Então, o que nos resta?

Sofrer e aceitar...

Ou correr atrás e lutar?

Lucas Freire

A rezadeira, ave-maria!

     

Se inicia o dia, 5h30 para ser mais exato, ela vai com seu terço em mãos, multicolorido, vestido branco com vermelho ou é vermelho com branco? Não sei te dizer, meditação ela não sabe o que é isso garoto, nunca soube, mas o faz constantemente, como Maria, mãe de nosso Senhor Jesus Cristo, ela reza e reza, por ele, por ela que passa, mas nunca, para ela mesmo. Ah, se eu pudesses entender, a tamanha devoção de tal mulher, de tal senhora, que desde a mocidade, prática o ato de rezar, ensinado pela mãe e pelo pai, a todo momento só tende a rezar, pedir e agradecer, por mim, por ela, por ele, por ti, mas nunca pra si. Exemplo de humanidade te digo, primeira defensora dos direitos humanos, que pede a Deus nosso Senhor, mas quem rezas por ela? Quem pedes por ela? Se tu perguntais não sei, mas sei que és o primeiro exemplo de caridade que tenho em minha efêmera existência. Maria deve olhar do céu, e rogar de perto essas mulheres, essas senhoras maltratadas pelo tempo, pelo trabalho, pelos homens. Quem sabes um dia, entendereis o que é esse sublime papel na sociedade, mas por enquanto não, egoísta que sou, dificilmente entenderei, apenas escreverei, para um dia poder dizer eu rezarei por ti meu filho. 

Kaio Rodrigues

Elevante

Essa história vou contar sem pressa
Eu vi um elefante numa peça
Peça sem roteiro, eu passageiro
Errava aos montes sem ter soprador

Mais estudava, mais era amador
E ora o elefante, ora a dor
Se instalavam sobre quem aqui fala
Orador, às vezes, um grande mala

Esperava aplausos grande elefante
Ou parava com tudo, alucinante
A peça exigia moderação
Mas eu pecava sempre por excesso

Ficava a chorar ou ver elefante
Mas tem um ponto que talvez encante
Porque nesse mesmo teatro vi
Quando cheguei ao penúltimo ato

Um sabiá surgir lindo e sensato
Em contraceno à forma exuberante
Enquanto o sabiá voava simples
Servíamos a peça, em nuances

Sinceridade em cada marcação
Quando terminávamos cenas juntos
Sabiá era minha fina estrada
Eu não esperava aplauso nem nada.

                                                                                                                                                                       Bea M.

 

 

O QUE SIGNIFICA DEPENDER DE POLÍTICOS. 
Se eu tivesse que lhe dar um conselho, seria o mais simples. Não dependa de políticos! Uma vez minha mãe me disse que o melhor a se fazer era estudar bastante e me formar "porque alguém que ficava parado em uma cidade pequena como está vive dependendo de políticos". Eu, apesar de toda minha ingenuidade e da mais profunda ignorância, já sabia o que isso significava. 
Depender de políticos significa que para você conseguir um bom emprego tem que correr atrás de cabide na prefeitura, que significa ter que bajular vereadores e prefeito que venceram a última eleição, que significa a cada 4 anos ter que balançar bandeira em nome de um partido que pouco conhece ou acredita, que significa entrar em uma fila de carros e motos junto a pessoas que estão em prol do mesmo significado; que significa se manter por 4 anos refém de uma causa que nunca existiu dentro de ti, que significa ter que viver durante 4 anos sobre o medo, a pressão, a tutela daqueles que te colocaram naquele local, que significa ser um peão em uma tabuleiro de xadrez pronto para ser sacrificado em nome da vitória, do jogo, da política, dos homens bons e da fila de eleitores que votaram no vencedor da eleição, e que quão grande é essa fila, atrás de emprego para ter que se manter por mais 4 anos, com a pressão, com o medo, com a causa, que significa perder a singularidade, viver as sobras de alguém, não emitir opinião adversa, e ter que balançar positivamente com a cabeça em tudo que lhe dizem, que significa nunca discordar, nunca dizer não, mesmo que isso possa prejudicar quem ama, que significa não viver o você, não viver suas crenças, não viver suas verdades. 
Tudo isso, para ter por mais 4 anos, uma bandeira a balançar, uma opinião a engasgar, uma pressão a viver no emprego de trabalhar. Lutando pela causa, em prol de um significado, que pouco tem importância ou realmente significa algo, que vai se perdendo na dependência, entre as filas de carros, no meio da multidão, entre as bandeiras, entre as promessas, entre os significados, que vai se perdendo, e que se perda, e que se perda a vida, cheia de “contrários” que se reduz ao seu significado.

                                                                   

                                                                                                                            Yago Juan - estudante de engenharia civil UFC

Prosa Social

Consciencia

A gente e o que a gente pensa

Nao seja mais um hipocrita 

e nao aja pela aparencia

Nossas acoes tem consequencia

Mas as vezes somos produtos de politicos sem coerencia

De um Estado em decadencia 

De empresarios sem descencia 

De uma midia mentirosa que manipula pela audiencia 

E agora, em meio a crise, querem acabar com a previdencia

Essa e' a resultante de agir quando nao pensa.

 

Os de amarelo bateram panelas, 

mas na rua nao ha presenca

Em um momento em que a uniao, 

seria a solucao plena

So a esquerda se apresenta, 

mas a revolucao e lenta

Pra chegarmos a plenitude eis aqui a minha sentenca:

 

Desigualdade em todo lugar

E a elite sempre no luxo

Assim nao pode continuar

Muitos com pouco e poucos com muito

 

Isso e' justo?

Nao na minha concepcao

Como pode pedir riquezas, 

sendo voce um mero cristao?

Pelas porta do ceu, ricos

nao passarao

Passarinho s(a)o aqueles com amor no coracao

Respeito e compaixao

Se Jesus tanto me ama,

o certo e' me respeitar entao!

E irmao, uma coisa eu lhe aviso: igreja nao e' terminal pra vender passagem pro paraiso

 

E ainda tem esses politicos

que pensam que sao deus 

pra aclamar morte a bandido: pois va entao matar os teus. 

Que os meus ja estao morrendo, 

pelas ruas da minha cidade, 

seja bandido, estudante ou filho,

Morrem sem dignidade 

Nas maos de agentes covardes, e com baixa remuneracao

Como posso culpar a policia se o estado nao estende a mao 

Impondo a eles uma situcao: se nao ha dinheiro e treinamento, o que, enfim, eles farao?

 

Farao o que todos fariam, pois somos mais do que a mesma sopa, 

A situacao faz a moral e o resto que se exploda... 

Karim Sutter - Aluno de engenharia da UFC

Outras Virão

Tudo estava árido e amargo 
Naquele Outono as flores não caiam
Elas simplesmente despencavam das árvores 
E quando despencavam estavam tão tristes e amargas 
Que pareciam até desesperançosas 
Desesperançosas não porque não haveriam outras oportunidades de florir 
Mas porque elas se entristeciam 
Mesmo sabendo que outras estações estavam por vir 
Dentre tantas outras que virão 
Elas se entristeciam porque sabiam que justamente outras viriam e novamente teriam que despencar
No entanto, naquele momento elas simplesmente queriam permanecer naquela estação
Sem razão...
Sem apologia... 
Sem explicação... 
Puramente haviam se apaixonado pelo clima, a insolação, o calor... Pelo Sol daquele verão.

 

                  Do Valman - Aluno da UFC 

 

Viveria na Alegoria  

Ninguém sabe se a morte 
É a continuação da vida 
Ou um sono indefinido 
Na esperança de acordar

Ou seria recomeço 
Do sofrimento dos homens livres 
Quem se apegam ao Sensível 
Em detrimento do sonhar

Prendido em uma caverna
Mas tão próximos das Ideias 
Apegado aos seus medos 
Acorrentado um ao outro

Então sairia 
Visitaria o Intelingível 
Procuraria o inexplicável 
E voltaria ao Sensível 
Poderiamos nos libertar

Eles estariam tão apegados 
Mesmo por todo meu falar
Seria taxado por mentira 
Então me mataria
Pelo medo do desacorrentar

                      Do Valman - Aluno da UFC

Odisseia

Ovo

Casa

Cidade

Casca

Terra

Buraco

Coração

 

Corpo

Esfera

Útero

Cabeça

Abraço

Cólon

Mão

 

Núcleo

Barco

Casulo

Banheiro

Boca

Mala

Prisão

 

Banco

Cubo

Armário

Ninho

Escola

Gaveta

Caixão

    Luís Gonzaga - Professor da UFC

Ensaio de um livro qualquer

 

Errou, todos erram, então concluiu que seu erro era justo, ora meu amigo, não ver que errar é humano! Olhou para o próximo como se fosse vencedor de um julgamento em um tribunal, e ali estava com um olhar triste, não de vencido, mas de desapontado, e finalmente, com um momento com o seu eu, percebeu que todas suas conclusões estavam erradas.... Uma voz, muito além do seu encéfalo, gritava: talvez não seja um crime para os homens, mas existem erros que são crimes contra a própria alma. E ele saia como se tivesse sentenciado sua própria pena. Era culpado de um crime que não cometeu contra ninguém, mas contra ele mesmo.

 Do Valman - Aluno da UFC        

 

Mais um dia triste

Era um dia triste

Ele chorava aos prantos

Cada gota que caia batia na janela do meu quarto

Enquanto acompanhava o ritmo dos meus pensamentos

 

Ouço raios

Ouço trovões

Ouço o barulho do chover

Ouço os meus questionamentos

Ouço minha dúvida de viver

 

Olho do lado de fora para a janela

Então eu me pergunto

Será se deus está cego?

Será se deus está surdo?

 

Por que existe tanta maldade?

Por que estamos nesse mundo?

Por que o dia está chorando?

Por que o dia está triste?

Por que estamos infelizes nessa terra de fantasia?

 

Quem inventou a tristeza?

Quem contou a mentira?

Seria eu o cego?

Seria eu o surdo?

Seria eu o criador da minha Dor e agonia?

Jogado no chão estava...

Enquanto meu sangue fervido escorria

Já estava morto na janela do sétimo andar

Pulou por pura euforia

Não morreu com aquela queda  

Mas nascia um suicida

Do Valman - Aluno da UFC

 

As Ligas Bodo

O sol apaga-se
Entra a noite
Clareada pelo tiros de uma 12
Flores que se corta
Morta pra lembrar do morto
Outro que saiu na hora errada
Outro que não volta mais pra casa
Outro que rodeados de loucos que dizem tudo mas não pensam nada

Pá e é mais um preto no chão
Fuzilado pelo Estado de exceção
Se for branco, tudo bom
Se for negro ou pobre, que pelo pão faz o corre, é caixão

O som da arma que não para
O tiro que em 1 segundo mata
E na razão do Estado que cala
Que não for elite é barata

Já nesse campo de extermínio
Porque nisso o Estado é exímio
Em matar preto e massacrar índio
Roubar nossas terras e dá pros gringos
Que eu me vejo não mais indo
Mas voltando, porque dessa merda eu to saindo

 

Fugindo da maioria que grita

Que coage, condena e generaliza 

Exigindo paz onde a morte se banaliza 

Onde dignidade é só história e a dor é a premissa

 

E você até pode dizer que é birra

Mas onde chove sangue, chove mirra

Sangue que brota das feridas

Infeccionadas que se alastram entre as minorias  

 

Todavia, ainda hão de se amar qualquer dia

E Prefiro não pensar que é uma utopia
Mas sim, uma meta de vida.

Karim Sutter - Aluno de Engenharia Ambiental

Carl Sagan e Belchior sob um céu iluminado   

 Quando ele percebeu já estava longe da multidão. Atrás dele só as luzes explodindo no céu e a gritaria das pessoas. Mais um ano   terminava e outro começava. Para ele, não passava de um fenômeno tão antigo quantos as rochas que ele já havia visto e lido.   Decidiu caminhar mais um pouco e olhar o céu. Ele estava lindo, parecia um dia de domingo ensolarado, brilhando como o sorriso   sincero de uma criança. Mas algo o lhe perturbava, algo dentro o incomodava. Seja lá o que fosse, tinha a ver com uma velha frase   que um velho bêbado havia dito "cada ser humano é um universo em si mesmo". Ele se sentia assim, um universo, que todo dia   tinha uma supernova por acontecer. Deu um último gole no vinho barato e assim decidiu mais uma vez que como o cearense   bigodudo de Sobral sempre lhe lembrava "ano passado eu morri, mas esse ano não morro" seguiria em frente, pronto pra mais   uma volta.

                                                                                                                                                          Diego Ferreira da Silva - aluno de Geologia, UFC

 

Outro João

Mataram o João, mataram a sangue frio. 
Tudo isso por uma CG velha e mais 30 reais que recusou entregar.

- Mas por que ele não entregou de mão beijada?

Era pro leite das crianças, homi!

Bateram nele, cuspiram na cara, chamaram de vagabundo e deram 2 tiros. Um pela moto e outro pelos 30 reais.

- Esse joão era o moto táxi?

Não, esse morreu na semana passada, quando tentaram roubar a moto dele.

Mataram o joão quando ele vinha do serviço!

- Esse joão era o da padaria?

Não, esse também tinha uma CG, morreu segunda feira, quando assaltaram a padaria.

- Esse joão era o vigia da escola?

Não, morreu também na segunda quando invadiram a escola

O joão que estou falando era pai de família.

- Esse joão era o marido da Dona Maria?

Não, esse morreu na terça, invadiram sua casa, ele reagiu e os bandidos não pouparam.

O joão que estou falando parecia com muita gente

- Esse joão era o que vivia ali na esquina?

Não, esse também foi assassinado, confundiram com outro João, também inocente.

O joão que estou falando morreu hoje

- Esse joão é o que trabalha no lava-jato?

Não, esse também morreu hoje, mas desse só levaram 15 reis.

Hoje as crianças desse ai também vão ficar sem leite

- Esse joão era o que trabalhava de cobrador?

Não esse morreu de tarde, mas desse daí não levaram nada, foi uma discussão com um cliente da loja

O joão que estou falando era meu amigo

- Esse joão era o ajudante de pedreiro?

Sim, era esse mesmo. Pobre joão, talvez tivesse sido melhor ter trocado de nome. O tanto que avisei, e acontece uma desgraça dessas.

Era um coitado, tudo por sua motiha, sua única motinha, que ralou o ano inteiro pra compra-la. Não queria que levassem seus 30 reais suados, seus únicos 30 reais do dia inteiro de serviço no sol quente, por isso que lutou bravamente, e agora levaram sua vida. Pobre joão, até pegaram o criminoso, justiça seja feita: para o assassino, um hotel cinco estrelas, com cama para dormir, comida de graça, visita intima e um salário por mês, para a vítima, meu amigo joão, um paletó de madeira, muito choro, algumas velas acesas, e uma viúva com cinco filhos.

Pobre joão no meio de tantos outros joãos, que estão também para morrer como joãos ninguém, só esperando sua hora chegar, não entendo o porquê disso. Eu avisei que mudasse de nome. Olha, acabaram de Matar mais outro joão, agora de bala perdida. O tanto que te avisei, estão matando um joão atrás do outro, mas você não me ouviu. Antes de morrer seu nome era João de Souza Pereira dos Santos, hoje, chamasse: estatística. Pobre amigo joão.

                                                Do Valman - aluno da UFC

A Cidade Subterrânea

          Em sua mente, o silêncio era quase absoluto, se não fosse pela sua própria voz. “Tão grandes”, pensou, olhando para a grama sob seus pés. “Mas, ao mesmo tempo, tão pequenos”, tornou a olhar para o céu estrelado. Ergueu as mãos até um ponto onde pudesse ver a peça que segurava. Era plana, rígida como madeira, mas pesada como metal. Cheirava a queimado e estava quente. “Uma cidade em chamas”, pensou tristemente, porque era com isso que aquela placa mãe queimada parecia.

          Agachou-se sobre a grama e puxou a pazinha de jardinagem do bolso de trás da calça, fincando-a na terra. Ele não a puxou de volta, como faria para cavar. Em vez disso, olhou para a peça que começava a esfriar e imaginou que aquilo se tornaria numa cidade subterrânea e em ruínas. “Mas eu posso recriá-la”. Largou a pá ali mesmo e voltou para dentro de casa. Entrou em seu quarto imaginando-se um engenheiro, um arquiteto. Sentado em uma cadeira, olhava a cidade com cheiro de queimada sobre a escrivaninha como se olhasse para seu maior projeto, seu sonho. Podia ser pequeno em suas mãos, mas era imensurável em sua mente. Criaria a cidade perfeita e estava decidido.  

   

          Quando acordou no dia seguinte, segurava uma chave de fenda em uma das mãos e um pano que cheirava a ferrugem na outra. Da placa  mãe só restava uma placa verde. Todas as minúsculas pecinhas haviam sido removidas e colocadas em um vidro, para que fossem remontadas depois. O cheiro de queimado desaparecera. Procurou por toda a casa, então, por aparelhos eletrônicos quebrados, porque percebeu que a placa  mãe sozinha era pequena. Foram poucas as peças que encontrou, mas as encaixou todas ao redor da placa  mãe, sobre uma folha de isopor. Aquilo seria o centro de sua cidade.      

          Por tempos, aquelas foras as únicas peças de sua criação. Ele as montou e remontou, fazendo as melhores combinações possíveis. Imaginava os prédios, as vias de acesso, todas as estruturas. Via-se pequeno ao ponto de poder viver ali. Ainda assim, sentia que aquilo não era suficiente, que sua cidade poderia ser maior. Começou a sair de casa, dirigindo até os lixões e aterros sanitários locais e vasculhando todos os lugares à procura de novas estruturas para sua cidade, que se tornava metrópole. Seu projeto arquitetônico cresceu, e, ao final de um ano, o espaço de seu quarto já não era mais suficiente. Ele passou-o para a garagem.


          Num certo ponto, parou de adicionar peças e tornou a simplesmente observar tudo aquilo. Analisou todo seu trabalho da forma mais crítica que conseguiu. Seu sonho estava finalmente ali. Era sublime, quase perfeito. Quase, porque só faltava uma única coisa: a vida. Aquela foi a questão que fez todo o seu projeto parecer inútil, pois estava incompleto, e, de certa forma, morto. Aquela falta era um grande problema, e ele, como criador, não sabia como resolvê-lo. Todos os dias, debruçava-se sobre seu sonho, pensando profundamente, procurando um solução, mas não a encontrava. Seus olhos fitavam o teto de seu quarto, semanas depois, quando, no ápice de sua melancolia, um pensamento mórbido ocorreu-lhe. Desenhou num pedaço de papel sua ideia e levou-a a um marceneiro. Teria de esperar até o dia seguinte para que se tornasse real.


           Sua ânsia era grande, ele não pôde ficar parado, simplesmente esperando. Antes de receber sua encomenda no dia seguinte, já preparara o local: cavara um buraco de boas dimensões em seu quintal e comprara alguns tapetes de grama, precisaria deles ao final de tudo. O centro do local escolhido era onde um dia fincara uma pazinha de jardinagem.Encaixou sua ideia de madeira no buraco que abrira, parte por parte, forrando-o completamente. O cheiro de serragem com terra molhada que subiu foi bom. Ele inalou aquele aroma e parou um pouco, absorto, olhando para o fundo do buraco.

          Passou as costas da mão em sua testa, enxugando o suor e parecendo lembrar-se novamente do motivo de estar ali. Entrou em sua garagem e parou de frente para sua construção. Tinha em seu semblante o olhar mais triste que alguém poderia ter. Sua cidade era grande. Foi preciso dividi-la em cinco partes para carregá-la até o buraco. A última delas a ser levada foi a matriz, o centro. Encaixou-a às outras no fundo do caixote de madeira. Olhou para aquilo e inspirou profundamente. A cidade subterrânea crescera, afinal. Debaixo de um céu estrelado como na noite em que estivera ali para enterrar uma placa  mãe queimada, ele encaixou a tampa do caixote de madeira e despejou terra sobre ele até que não pudesse mais ser visto. Então, ao final, colocou os tapetes de grama sobre a terra remexida.

          A tristeza o atingia em outro ápice. Sentia-se como um errante, sem uma parte de si mesmo, pois não sabia o que havia a fazer agora. Esperaria, aquela era sua única certeza, por tempo indeterminado. O frio noturno levou-o para dentro de casa. Ele tomou um banho e deitou-se. Dormiu e sonhou que estava em sua cidade, mas não percebeu o que havia de mais novo e notório: os habitantes. Era um sonho legítimo, então tudo parecia certo até o momento de acordar.

          Foi nesse momento que um sorriso alargou-se de uma ponta a outra de seu rosto. Pena que aquilo não durou muito, pois logo voltou à realidade, e apenas uma noite se passara desde o enterro. Tinha de admitir que não esperara por toda aquela agonia, pensara que seria muito mais fácil de suportar. Mas, agora, o que havia por fazer? Tinha de encontrar algo para ajudá-lo a parar de pensar naquilo.

          Passou a ler, a sair mais de casa. Não foi fácil no início, mas, depois, começou a ser bem efetivo. Adorava tomar café com chantilly enquanto lia um bom livro na livraria. Sua cidade foi realmente sendo esquecida aos poucos, sob a terra, isolada em um caixão de madeira, até que só fosse parte de sua memória, e não mais de sua vida. E, mesmo estando ali, ele não se lembrou dela. O tempo passou e foi mais do que o necessário. A madeira de uma caixa umedeceu, e, em seu interior, uma cidade criou vida, mas não uma vida qualquer.

          Algum dia, talvez, se alguém chegasse a violar aquela tumba, maravilhar-se-ia com tal vista. Veria a mais perfeita cidade subterrânea, cheia de musgos e com cogumelos em alguns pontos, cheia de vida da mais simples forma, esquecida pelo próprio criador. Não era mais uma tumba, era um sonho na realidade, mas seu idealizador estava bem longe dali, segurando duas coisas: um livro e uma xícara de café.


 
                                                                                            Pedro Ignácio- aluno de Engenharia Civil da UFC               

                Destinos

 

 A ana

A cama

A lama

 

A dama

A trama

A fama

 

A grama

A grana

A joana

 

O pijama

O telegrama

O teledrama

 

O dia

A pia

A jia

 

A lia

A mia

A mio pia

 

A ave maria

A carestia

A blenorragia

 

O mijo

O risco

O lixo

 

O cisco

O disco

O visgo

 

O musgo

O lusco

O fusco

 

O fico

O chico

O fuxico

 

O fusca

O faísca

O dentista

 

O desejo

O realejo

O sobejo

 

O recado

O pecado

O sobrado

 

O menino

O destino

O pepino

 

O poema

O fonema

O teorema

 

A alegria

A azia

A anemia

 

A vida

A ida

A subida

 

A morte

A sorte  

A glote

                  Luís Gonzaga- Professor da UFC

 

Carros Amarelos

          Quando trafego pela minha cidade, costumo ver pouquíssimos carros amarelos a transitar pelo caótico labirinto. Meu pai tinha um carro amarelo, um corcel 1976, amarelo augusta. Nome estranho, gostaria de saber de qual Augusta o amarelo herdou essa atípica denominação. Certa vez, perguntei-me qual a probabilidade de sair pelas ruas e ver apenas carros amarelos em trânsito. Ri da minha absurda ideia, visto que a mesma tinha uma surreal incongruência. Depois, franzi o cenho e me a flagrei tentar mensurar tal malfadada probabilidade. Teria de saber o tamanho da frota de carros, e, em especial, o porte da frota de carros amarelos. Não bastaria apenas dividir esses dois valores, eu precisaria mensurar também a probabilidade dos carros das demais cores não saírem de suas garagens nesse atípico dia. Não sabia como delinear tal espaço amostral. Não entendia se precisaria usar probabilidade condicional ou a regra de Bayes. Depois de vagas e inúteis tentativas de calcular essa insólita probabilidade, desisti desse desafio. Alguns dias passaram sem que eu recorresse nessa infrutífera seara. Num dia qualquer, acordei cedo e dirigi-me ao subsolo, para guiar meu carro, que não é amarelo, mas bege. Estranhamente, não haviam outros carros no subsolo, a não ser meu carro bege. Subi a ladeira, saí pelo portão, e não vi outros carros acostados no logradouro ou a transitar. A urbe estava cadavérica, sem veículos, transeuntes, ciclistas ou animais a vagar pelas ruas. Apenas eu e meu reluzente carro bege, a velejar sob o sol bravio. Repentinamente, avistei uma horda de carros a se engarrafar, de forma acachapante, nas ruas. Para minha surpresa, todos os carros eram amarelos. A avenida Santos Dumont estava repleta, em todas as suas faixas, de carros amarelos. Até a faixa exclusiva para ônibus estava ocupada por carros amarelos. Apenas um veículo estava a ferir essa lógica: meu singelo carro bege.

Bruno Prata- Professor da UFC

 

A Armadura de Pelinhos

         Tinha oito anos de idade, um metro e vinte e cinco, mas se sentia um gingante. Estava feliz, aparecia bem ali, no meio de suas narinas, o seu primeiro pelinho, barba, era uma barba. Agora ele já poderia usar gilete, igual ao seu pai. No entanto, preferiu deixa-la, faltava pouco para aparentar ser os piratas que tanto admirava.

         Era um garoto esperto, cheio de traquinagem. Outra vez, roubou a cortina do quarto de seus pais, e fez um grande castelo. Cabia tudo lá dentro, seus amigos, suas armas, suas cartinhas do yu gi oh, a sua felicidade. E mais pelinhos crescia entre suas narinas.

         Fazia bonecos com as coisas mais absurdas, a gaiola velha de passarinhos se tornava a bastilha da revolução, a garrafa de café, um robô de sangue escuro. Roubou os pregadores de roupa da lavanderia, e todos se transformaram em armas, naves espaciais e bonecos. Fazia isso todos os dias, e quando notou, outro pelinho havia crescido, já se sentia um adolescente.
         Costumava mostra aos adultos todas suas invenções, mas eles não entendiam suas obras de arte, falavam: Isso e só uma cortina em cima de cadeiras, isso é só uma garrafa e uma gaiola velha, esses pregadores só são pregadores, eita menino traquino. E outro pelinho nascia em baixo de suas narinas.

         Já não brincava mais com seus bonecos, sua vida agora era correr na rua, se sentia o flash, dizia isso para todo mundo, e os adultos falavam, você não é herói, é só um garoto correndo feito doido pela rua, deixe de correria e de ser besta também. E outro pelinho crescia entre suas narinas.

         Parou de correr, pegou a vassoura dentro de casa, e não sabia se transformava ela em um cavalo, uma arma ou um cajado. Isso é só uma vassoura, dizia outro adulto. A vassoura se tornava apenas vassoura, não era mais cavalo, arma ou cajado, era apenas uma vassoura, cada vez menos outra coisa, apenas vassoura. E mais um pelinho crescia entre suas narinas

         Ganhou seu primeiro videogame, escolhia sempre o carro vermelho, era o piloto mais veloz do mundo, mesmo chegando sempre em segundo lugar. Os adultos falavam que ele não era o melhor em nada, e mais uma vez, deixa de ser besta menino. E outro pelinho crescia entre suas narinas.

         Havia na escola sua primeira namoradinha, já não gostava mais de bonecos, de barracas, e de brincar na rua, ou pelo menos fingia não gostar, e pelo visto, fingia muito bem. A sociedade forçava ser cada vez mais maduro, a escola forçava trocar os brinquedos por cadernos. E mais pelinhos crescia entre suas narinas.

         Na escola era trabalhos, em casa mais trabalhos, era preparado para entrar na faculdade, trabalhos, provas, trabalhos. Nenhuma cortinas era mais castelo, seu universo era o computador. As redes sociais, era sua rua, mas postar textão não era tão divertido quanto correr na rua.

         Enfim, faculdade, agora não era mais criança, era só trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho. E mais pelinhos crescia, não apenas em suas narinas, mas em todo o seu rosto.

         Ser pirata não apresentava graça nenhuma, tinha que tirar todos os pelinhos, e como era chato ter que tirar todos esses pelinhos! E mais pelinhos cresciam. E a sociedade forçava que esses pelinhos ficassem no seu rosto. E mais pelinhos cresciam.

         Fim de faculdade, e sua vida agora era finalmente trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho. E pelinhos cresciam.

         Casou, agora sua namoradinha era sua mulher. E agora era só mais trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho. E pelinhos cresciam.

         Sua mulher estava gravida, era um menino traquino que ia nascer. E agora mesmo que tinha que trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar. E pelinhos cresciam, não adiantava mais tirar esses pelinhos deveriam ficar para sempre. E mais pelinhos cresciam.

         Era um adulto completo, sua vida estava longe de qualquer felicidade imaginativa, nada de criatividade, apenas trabalho. E quando menos esperava seu filho nasceu, já começava suas primeiras traquinagens, roubava cortinas, gaiola velhas, garrafa de café e pregadores. E ele dizia, deixa de ser traquino menino, essa cortina não é castelo essa garrafa não é robô e muito menos essa gaiola é a bastilha. Vassoura é só vassoura, não é cavalo, nem arma, nem cajado, apenas vassoura. E pelinhos nasciam entre as narinas de seu filho.

         Mas aos 30 anos de idade, em sua rede social, ao trocar a foto do perfil no dia das crianças, por uma de quando tinha 8 anos e um metro e vinte e cinco de altura, viu o quão gingante era. Mas tudo aquilo era passado, já não importava mais. O que resta agora, é seguir o modismo das redes. E mais pelinhos cresciam, muito mais.

         Finalmente, ao caducar e questionar a vida adulta, observou através do seus próprios olhos como os adultos veem o mundo, ao olhar para o seu filho com seus amigos, suas armas, suas cartinhas do yu gi oh e toda àquela felicidade dentro de uma cortina pequena em cima das cadeiras, tudo se transformou. Cortina era castelo, vassoura era cavalo sim, era arma, era cajado! Tudo que olhava tinha vários formatos, e sua infância voltava mais viva, mas calejada da vida adulta. E aquela armadura adulta de pelinhos, entre o seu rosto, caiu - Bash bow - voltava a enxergar a vida como ela é de verdade, criativa, imaginativa, divertida, era criança novamente.

 

                            Do Valman - Aluno da UFC

 

 

 

 


 

 

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Reflexões

 

De frente para o espelho ...

Vejo as simetrias de meu rosto e assimetrias de minha alma

Vejo narciso no olhar estático da medusa

Vejo pássaros de cristais voando no infinito do sonho

Vejo o não querendo dizer sim

Vejo Alice conversando com Clarice

Vejo o passado refletindo o futuro

Vejo Roma ardendo em chamas de amoR

Vejo o velho no sorriso da criança

Vejo girassóis de barro no solo árido do meu coração

Vejo o dia querendo ser noite

Vejo a vida aprisionada no enigma do tempo

Vejo o amor voando livre como nuvem

Vejo as verdades despidas de mentiras

Vejo a matéria na anti – matéria do meu ser

 

                                                                    Luís Gonzaga- Professor da UFC

Demolição

Conhecimento é claro,

A noite é escura.

O branco é sábio,

A negritude perdura.


Desigualdade social, poucos brancos são atingidos,

Negros, os mais vividos, são os menos ouvidos.

O branco, o drama sofisticado, de quem pode comprar,

O negro, o drama marcado, de quem pode chorar.


Em 1888 o País mostrou o seu racismo disfarçado.

Os negros foram libertos da escravidão e postos à própria sorte.

Sem auxílio nenhum, com a vida nas mãos do Deus Zumbi,

De educação, saúde, os seus palmares eram desprovidos.


O racismo é escuro,

O preconceito é claro.

O branco criou novos muros,

O negro continua acorrentado.

 

 

                                                   João Victor Morel - Aluno do Colégio 7 de Setembro .

Por baixo da pele, é tudo a mesma coisa

 

     Dentre todas as formas de preconceito o racismo é a mais antiga. Os escravos, quando alforriados, foram “largados” às margens da sociedade, sendo as vítimas pioneiras do preconceito racial. Pela aristocracia branca, eles sofriam discriminação e não tinham permissão para frequentar os mesmo locais que os brancos. Fato que se repetiu séculos depois durante o Apartheid, ocorrido na África no século XX, caracterizado por ser um regime de segregação racial extremamente violento e radical que teve fim através da luta de Nelson Mandela, falecido em 2013.

 

      Apesar desses regimes de segregação terem tido fins oficiais, eles ainda continuam ocorrendo de forma implícita. Isso pode ser constatado através da proibição dos polêmicos “rolezinhos”, onde jovens, de maioria negra, se reuniam em shoppings. Fato que constrangia os frequentadores de, digamos, maior poder aquisitivo do local.  

 

      Outro exemplo de discriminação, dessa vez explícita, é o preconceito racial que ocorre no esporte, ato que já se tornou modismo em todo mundo, mas que ocorre frequentemente na Europa. Fato que chama a atenção, visto que são os países mais desenvolvidos do mundo, com Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) mais altos do planeta. O que por fim prova que o pensamento da raça branca como superior não se dissipou totalmente da mente europeia.

 

    O Brasil, país detentor da maior diversidade étnico-racial do mundo, tem grande responsabilidade na luta pelo preconceito, não apenas no esporte mas na sociedade como um todo. Por isso, sociedade e Estado devem se tornar agentes de combate ao preconceito através de campanhas de conscientização em todos os meios de comunicação, principalmente na internet, o melhor meio de dispersão de ideias existente. 

 

    O fato de o racismo ter sido considerado crime hediondo e inafiançável foi um grande passo do Estado e uma vitória da sociedade, porém nem todos os indivíduos que praticam o crime são punidos de forma efetiva, muitas vezes porque não são denunciados. Por isso, a criação de um disque denúncia  através da abertura de páginas nas redes sociais poderá auxiliar na aplicação da lei e na melhor comunicação entre governo e sociedade.

 

                                                                            Mariana Campos - Aluna da UFC.

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