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  • Lucas Benício

A Hora da Estrela – Clarice Lispector


O romance A hora da estrela foi o ultimo livro escrito por Clarice Lispector, publicado no ano de 1977 meses antes do falecimento da escritora, talvez por isso de certa forma ele tenha ganhado uma carga significativa no que diz respeito ao acervo da romancista. Chaya Pinkhasovna Lispector dispensa comentários no âmbito da literatura nacional, nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira, a escritora e também jornalista escreveu também contos e ensaios, no entanto, sem duvidas foi em meio a sua forma de escrever romances que ela se tornou uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX.


A hora da estrela é uma obra bastante instigante e trás questionamentos corriqueiros a respeito da condição humana, ela contempla toda a originalidade de Clarice, carregando também seu viés sentimentalista em colocar suas emoções em meio a obra, contudo, este livro possui também um certo cunho autobiográfico, onde podemos identificar a essência da escritora atrelada aos personagens principais Macabéa e Rodrigo S.M.


“Há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É a visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes.”


Na trama o personagem do escritor Rodrigo S.M. funciona como um narrador fictício que conta a história da alagoana Macabéa, uma jovem órfã de 19 anos que foi criada pela tia em meio à religiosidade atrelada a vários tabus e que vive no Rio de Janeiro. A personagem central leva uma vida miserável privada de seus pequenos prazeres desde a infância, o leitor é consumido pelo vazio existencial e solidão que a datilografa emana.


Em certo ponto da história Macabéa conhece Olímpico de Jesus, que a partir de então se torna seu namorado, um sujeito mau-caráter e ambicioso que contrasta com a forma de existir da moça. O personagem evidencia a arrogância humana, ironicamente almeja ser deputado e trás um reflexo de como a sociedade devora a inocência. Em algumas ocasiões Olímpico facilmente se irritava com as perguntas e informações “tolas” de Macabéa que sempre se desculpava pelo medo de perdê-lo, contudo, o sujeito larga Macabéa para ficar com sua amiga Glória.


“Macabéa, ao contrário de Olímpico, era fruto do cruzamento de o “o quê” com “o quê”. Na verdade ela parecia ter nascido de uma ideia vaga qualquer dos pais famintos.”


O clímax se dá quando Macabéa é aconselhada por Glória a ir até a cartomante Madama Carlota para saber a respeito de sua sorte, lá Macabéa pela primeira vez ganha um pouco de existência e chega a almejar um futuro sentindo-se esperançosa, visto que no futuro prometido pelas cartas da cartomante ela se casaria com um estrangeiro rico que daria todo o amor que ela buscava. Logo após, Macabéa morre de forma banal ao atravessar a rua sem olhar, apesar dos inúmeros telespectadores da cena, a jovem não recebe socorro, de fato um momento muito simbolista para tudo o que o livro nos impõe, afinal estamos cercados e sozinhos ao mesmo tempo.


A vivência da jovem nos remete à futilidade da vida no vasto plano existencial, todos possuem um pouco de Macabéa e sempre é chegada a hora da estrela. Clarice Lispector é genial na sua abordagem e em certos momentos quando é nitidamente representada pelo personagem Rodrigo S.M. faz diversas reflexões sobre o ato de escrever e sobre a limitação de transcorrer o existencialismo.



 

Esperamos que tenham gostado da resenha!

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