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  • Ana Carla Holanda

Travessias – “O Alienista”, de Machado de Assis

No dia 24 de novembro de 2021, às 19 horas, o projeto LER (Leitura, Engenharia e Reflexões) realizou o seu segundo encontro virtual do clube de leitura Travessias, que foi criado com o objetivo de discutir a leitura de um livro selecionado previamente. O Travessias é realizado na última quarta-feira de cada mês, sempre às 19 horas, sendo um espaço para os alunos, professores e demais participantes e colaboradores que expõem suas observações sobre a leitura realizada e conversam sobre as impressões da obra, em um debate muito engrandecedor.



Durante o mês de novembro, foi realizada a leitura do livro “O Alienista” (Editora Moderna), do ilustre escritor brasileiro Machado de Assis, cujo um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. A obra narra a loucura de Simão Bacamarte, médico bastante respeitado pela sua carreira na Europa e no Brasil, o Dr. Bacamarte resolve então voltar a sua cidade natal, Itaguaí, onde procura se dedicar mais a sua profissão. Onde certo dia, o Dr. Simão Bacamarte resolve estudar psiquiatria e logo constrói um manicômio que se chama Casa Verde para abrigar os loucos de sua cidade natal e regiões. Mas ao longo da história, o espaço fica muito cheio e o Dr. ainda mais obcecado pelo seu trabalho de abrigar as pessoas no manicômio. Porém, no começo realmente os pacientes tinham casos de loucura e a internação era necessária, mas ocorreu que em certo momento o Dr. Simão passou a enxergar loucura em tudo e em todos, assim, passou a internar as pessoas que por algum motivo provocam espanto.


Um fita o presente, com todas as suas lágrimas e saudades, outro devassa o futuro com todas as suas auroras.

(O Alienista, de Machado de Assis)


No decorrer do encontro, que durou cerca de duas horas, o debate foi iniciado pelo mediador professor Luís Gonzaga Rodrigues Filho, que também é responsável pela coordenação do LER e professor do DIATEC - CT/UFC. Dentre os presentes, estiveram a professora Áurea Holanda (DIATEC/CT), a professora Natália Barroso (DIATEC/CT), os bolsistas do projeto, servidores, ex-alunos e alunos da UFC e também de outras instituições. Primeiramente, o professor Luís dá início às boas-vindas aos participantes e apresenta um pouco sobre o Clube de Leitura - Travessias. Por conseguinte, ele comenta e apresenta um pouco sobre a história e temas que o autor aborda no livro.


Iniciando à apresentação das impressões sobre a obra, a participante Christine Farias abordou na sua fala inicial sobre estrutura da edição do livro, e comentou o quanto achou interessante as notas de rodapé da obra, pois facilitou e ajudou na sua leitura. Seguindo as impressões, a participante e professora Áurea Holanda abordou a utilização da matraca na obra, utilizada para clamar histórias ou algum acontecimento, e ela percebeu que a matraca tem uma relação com as fake news, termo caracterizado atualmente. Novamente, a professora Áurea destacou um trecho da obra que diz “Não há remédio certo para as dores da alma!” Comentou que se emocionou com esse trecho, pois cada ser humano tem suas particularidades, cada um tem suas dores, se tornando complexo se passar um remédio “certo” para cada pessoa, com dores.


Não há remédio certo para as dores da alma!.

(O Alienista, de Machado de Assis)


Na sequência, a professora Áurea trazendo mais suas impressões, ela comenta sobre um trecho da obra que dizia “excelente senhora estava enfim restituída ao perfeito desequilíbrio das faculdades"(page. 85), ela destaca sobre o "equilíbrio perfeito” e sabemos que isto não existe em uma pessoa, pois todos os seres humanos temos os nossos desequilíbrios e faz parte das nossas imperfeições. E logo mais, na página seguinte ela destaca o trecho “eis o resultado a que chegou: os cérebros bem organizados que ele acabava de curar eram desequilibrados como os outros.” e comenta de como se relaciona com o trecho anterior, pois aborda os nossos desequilíbrios.


Excelente senhora estava enfim restituída ao perfeito desequilíbrio das faculdades.”

(O Alienista, de Machado de Assis)


Logo mais, o professor Luís Gonzaga complementa a fala da professora Áurea comentando que o trecho que ela destacou faz uma referência ao texto do Miguel de Cervantes (Sancho Pança). A professora Natália complementa a fala do professor Luís Gonzaga comentando que é totalmente atual o sistema político abordado na narrativa. E ademais, comenta a situação dos manicômios que na narrativa não é muito detalhada, e relaciona com os da realidade que as situações são bem precárias. Acrescentando mais, o bolsista Luan Victor comenta pelo chat o hospícios de barbacena, foi um caso brasileiro que aconteceu no ano 1903 em Minas Gerais, onde acorreu um verdadeiro holocausto, pois usavam para matar pessoas negras, pessoas lgbtqia+, e entre outras minorias.


Seguindo, o bolsista Gustavo Castro comenta sobre o escritor Machado de Assis, que como bom autor a sua obra consegue ultrapassar a barreira do tempo, a sociedade muda, mas sua obra ainda se faz atual. Ademais, ele acrescenta que leu um artigo que o título se chama “Como os Estados Unidos da América tem mais de 2 milhões de escravos", o mesmo estabelece uma relação deste artigo com uma parte da obra, onde o Dr. Bacamarte coloca seus opositores na Casa Verde para de certo modo se calarem.


Quem nos afirma que o alienado não é o alienista?

(O Alienista, de Machado de Assis)


Em seguida, o participante Lucas Benício aborda sobre o trecho “quem nos afirma que o alienado não é o alienista?” Ele comenta sobre o questionamento que devemos fazer sobre algo não tão certo, sobre fatos não aprovados e comprovados e conclui que o normal de certa forma é ser diferente. O Professor Luís Gonzaga completamente comentando sobre o Dr. Simão e sua procura de um certo padrão da mente “normal”, sendo que não existe esse padrão de normalidade que o Dr. tanto procurava estudar.


Mas a ciência tem o inefável dom de curar todas as mágoas.”

(O Alienista, de Machado de Assis)


A participante e colaboradora Rayssa Carneiro aborda o tema cientificismo, onde destaca dois trechos “Mas a ciência tem o inefável dom de curar todas as mágoas;” e “A generosa revolução, que ontem derrubou uma Câmara vilipendiada e corrupta, pediu em altos brados o arrasamento da Casa Verde; mas pode entrar no ânimo do governo eliminar a loucura? Não. E se o governo não a pode eliminar, está ao menos apto para discriminá-la, reconhecê-la? Também não é matéria de ciência. Logo, em assunto tão melindroso, o governo não pode, não quer dispensar o concurso de Vossa Senhoria.” ela comenta que esse último trecho chamou sua atenção, pelo fato de até que ponto vai essa separação de política e ciência no governo atual que estamos vivendo e questiona se realmente existe essa separação entre política e ciência, assim como, pontua até que ponto a política incentiva a ciência e ao mesmo tempo um desincentivo. E conclui trazendo mais uma vez o trecho “Um fita o presente, com todas as suas lágrimas e saudades, outro devassa o futuro com todas as suas auroras.” comenta e questiona, quem realmente está vivendo o presente na narrativa?


Não acontecia o mesmo ao vereador Galvão, cujo acerto na objeção feita e cuja moderação na resposta dada às invectivas dos colegas mostravam da parte dele um cérebro bem organizado; pelo que rogava à Câmara que lho entregasse.

(O Alienista, de Machado de Assis)


Seguindo com debate, o professor acrescenta mais um trecho que destaca “Não acontecia o mesmo ao vereador Galvão, cujo acerto na objeção feita e cuja moderação na resposta dada às invectivas dos colegas mostravam da parte dele um cérebro bem organizado; pelo que rogava à Câmara que lho entregasse.” e relaciona o trecho com o poder que os políticos tinham considerando sua humanidade parlamentar, que sempre será privilegiados nas situações mais complicadas, comparada com os demais cidadãos.


O bolsista Luan Victor comenta sobre a narrativa ser atemporal, e acrescenta um momento da obra que Dr Simão tem mais poder, do que a câmara da cidade, tornando assim, um ditador pois ele estava tendo um grande poder sobre a cidade, apesar do mesmo servir a ciência, chega um momento na história que as decisões que deveria ser tomada pela câmara da cidade, acaba se revertendo ao Dr. Bacamarte, mesmo por consequência não querer esse cargo, e trazendo essa atemporalidade e situação no livro, o autor traz uma crítica ao autoritarismo.


Às vezes bastava uma casaca, uma fita, uma cabeleira, uma bengala, para restituir a razão ao alienado.

(O Alienista, de Machado de Assis)


Mais uma vez, o participante Lucas Benício traz um trecho “Às vezes bastava uma casaca, uma fita, uma cabeleira, uma bengala, para restituir a razão ao alienado;” e comenta além de questionar quem literalmente teria sua sanidade mental baseada em uma casaca, uma fita, uma cabeleira e uma bengala? Logo, o professor Gonzaga complementa que realmente não faz nenhum sentido e muito menos não se tem nenhum fundamento, quando não se traz nada comprovado.


Mas deveras estariam eles doidos e foram curados por mim, ou o que pareceu cura não foi mais do que a descoberta do perfeito desequilíbrio do cérebro?

(O Alienista, de Machado de Assis)


Próximo do término do clube de leitura, o professor Luís Gonzaga destaca mais um trecho como “Era decisivo. Simão Bacamarte curvou a cabeça juntamente alegre e triste, e ainda mais alegre do que triste. Ato contínuo, recolheu-se à Casa Verde. Em vão a mulher e os amigos lhe disseram que ficasse, que estava perfeitamente são e equilibrado: nem rogos nem sugestões nem lágrimas o detiveram um só instante. – A questão é científica – dizia ele” nesse trecho da obra mostra como ele não demonstrava nem um sentimento, pois se tornava contrário na questão da ciência, e no seu lado racional.


Por fim, prosseguindo para o final do clube de leitura, o professor faz suas considerações finais do clube, logo a professora Natália pontua sobre o quanto estamos vivenciando uma realidade passada pela narrativa mais suas considerações finais. Logo mais, o Luan Victor e o Gustavo Castro apresentaram suas considerações finais pelo clube de leitura. E o professor Luís apresentou o próximo livro para a próxima discussão que será “Um Conto de Natal” de Charles Dickens, assim convidando a todos para o próximo encontro, que foi realizado no dia 27 de dezembro de 2021, às 19 horas.

 

Instagram: @ler.ufc (www.instagram.com/ler.ufc)

 

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