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Lucas Benício

Com_versando – I Encontro Virtual do LER

Este ano todos vivenciaram uma experiência atípica, por conta da pandemia as relações sociais ficaram restritas se resumindo majoritariamente à comunicação digital. Nesse contexto, ganhamos muito aprendizado ao passo que perdemos muitas coisas importantes. O LER sempre se destacou por propiciar um ambiente acolhedor principalmente no clube de leitura, uma de nossas principais ações, onde eram desenvolvidos debates calorosos em um âmbito gentil e que agregava bastante conhecimento a respeito da vida.

Desta forma, em um ano onde a adaptação foi uma virtude extremamente necessária, nosso projeto desenvolveu a ação “Com_versando”, idealizada pelo professor Luiz Gonzaga a ação busca suprir o clube de leitura do LER através de uma roda de conversa virtual diversificada entre professores, alunos, escritores, artistas e personalidades que tenham afinidade com a cultura sobre temas relacionados à educação, engenharia, literatura e arte, onde cada encontro realizado possui uma temática chave sobre a qual é realizado o debate.



O primeiro encontro virtual do LER foi realizado no dia 03/12 com a temática Literatura, Engenharia e Reflexões, justamente os pilares que constituem a base do projeto, nada mais justo para a inauguração da nova ação. Com o professor Gonzaga como mediador os convidados relacionados aos temas base foram o professor Assis Filho (DEHA – UFC), a professora Irenísia Oliveira (Literatura – UFC) e as graduandas em engenharia civil e também ex-bolsistas do LER, Mariana Campos e Rayssa Carneiro.



O primeiro momento do encontro foi marcado pela apresentação do projeto e dos convidados pelo professor idealizador, que mostrou um pouco de como surgiu a ideia do LER e de como ela foi colocada em pratica, dando uma breve introdução da nossa retrospectiva.


“Me veio a ideia na época, quando a gente foi fazer a divulgação do LER, de criar um símbolo, ou um ícone pro projeto e então eu tive a ideia de criar esse garrafão fazendo alusão a sede né?! A sede de leitura, a sede de conhecimento, a sede de arte. [...] Praticamente onde nasceu o projeto, não do papel, mas em termos práticos”

Prof.º Luiz Gonzaga


Em seguida, a ex-bolsista do LER Rayssa Carneiro falou sobre sua experiência no projeto e como ele impactou na sua formação acadêmica. Sendo uma das primeiras bolsista do LER, ela mostrou um pouco de nossas primeiras ações, as estratégias de reflexão, bem como a iniciativa do garrafão simbolizando a sede de ler. O inicio do blog, nossa principal ferramenta na exposição de conteúdo, também foi colocada em pauta, sendo uma ideia inicial da também ex-bolsista do LER, Mariana Campos. Vários pontos de nossa trajetória foram destaque e sempre serão lembrados com carinho, como a ida do projeto a Rádio Universitária, a apresentação do LER na COBENGE 2019, as visitas à espaços culturais e o Clube de Leitura.


“O LER é um projeto engrandecedor, inovador e muito relevante, hoje eu vejo que ter convivido com ele desde o inicio da minha graduação me fez melhorar muito a minha expressão, a capacidade de escrita e como esse foi o primeiro projeto que eu tive contato dentro da universidade ele me fez enxergar que a engenharia e a literatura e a arte não são tão distantes como as pessoas dizem e também elas não devem ser”

Rayssa Carneiro


Infelizmente a convidada Mariana Campos não pôde participar do encontro, no entanto, ela enviou um vídeo com um depoimento dando sua opinião sobre o projeto e falando da felicidade que foi dar inicio a algo tão grandioso.


“Foi engraçado porque eu pensava que o projeto já tinha tudo pronto, tinha suas atividades sendo desenvolvidas e tudo mais, e eu fui a primeira bolsista a chegar no projeto, e quando eu entrei na sala do professor que ai ele deixou tudo bem esclarecido, que o LER ainda era só uma ideia, ele ainda não tinha nada sendo posto em pratica, digamos assim, eu poderia ter ficado muito assustada por que eu ia ajudar a realizar isso, mas na verdade eu fiquei tão animada, tão feliz que eu ia ajudar a colocar em pratica um projeto que além de ser um projeto de incentivo à leitura, à cultura, à arte e etc. O LER é um projeto que é uma semente e só de um aluno saber da existência de um projeto de incentivo a leitura na engenharia, já desperta nele uma reflexão”

Mariana Campos


A professora Irenisia Oliveira deu um aprofundamento no âmbito da literatura, momento que foi muito rico em conhecimento e que contou com a declamação de textos belíssimos e de alto cunho reflexivo. Em suas palavras ela conta que escolheu falar a principio sobre a literatura erudita, para todos, que vai além do especialista. Fato que a literatura por entretenimento em alguns âmbitos vai ficando para trás, especialmente em meio à engenharia, com toda a cobrança por números e o pouco tempo disponível. A professora teceu sua participação inicialmente sobre um texto do critico literário Antônio Cândido chamado o “direito à literatura”, ela falou sobre o direito de todos perante ao ato de ler, a literatura democratizada e irrestrita, bem como sua importância na sociedade, além das formas de como a literatura se manifesta e está atrelada a nós. Patativa do Assaré também deu sua contribuição à convidada através do poema “Cante lá que eu canto cá” que deu origem a um dialogo sobre a segregação entre as bolhas sociais e suas produções, mas que no fim tem o mesmo proposito de produzir arte, cultura, literatura de qualidade.


“Felizmente a literatura não é dos professores de literatura, a literatura é de todos, e ainda bem. [...] A literatura não pode ficar nessa bolha, ela tem que sair, por isso que é tão interessante um projeto como esse de vocês”

Prof.ª Irenísia Oliveira


O direito à literatura (trecho)

Antônio Cândido

Chamarei de literatura, da maneira mais ampla possível, todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático em todos os níveis d e uma sociedade, em todos os tipos d e cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, até as formas mais complexas e difíceis da produ­ção escrita das grandes civilizações. Vista deste modo a literatura aparece claramente como manifestação universal de todos os homens em todos os tempos.


Cante lá que eu canto cá

Patativa do Assaré

Poeta, cantô de rua Que na cidade nasceu Cante a cidade que é sua Que eu canto o sertão que é meu

Se aí você ter a eve estudo Aqui, Deus me ensinou tudo Sem de livro precisá Por favô, não mêxa aqui Que eu também não mexo aí Cante lá, que eu canto cá

Repare que a minha vida É deferente da sua A sua rima pulida Nasceu no salão da rua Já eu sou bem deferente Meu verso é como a simente Que nasce inriba do chão Não tenho estudo nem arte A minha rima faz parte Das obra da criação

Você teve inducação Aprendeu munta ciença Mas das coisa do sertão Não tem boa esperiença Nunca fez uma paioça Nunca trabaiou na roça Não pode conhecê bem Pois nesta penosa vida Só quem provou da comida Sabe o gosto que ela tem


O ultimo momento do encontro ficou a cargo do professor Assis Filho, sendo considerado o convidado mais atrelado ao âmbito da engenharia ele não se prendeu a isto e promoveu uma conversa bastante dinâmica, classificando sua fala como doxa, que de acordo com platão se refere à mera opinião. O professor criticou a visão utilitarista presente na engenharia, ainda mais relacionada à literatura e arte, que podem sim nos propiciar apenas o entretenimento e o prazer, mas que também nos entregam mais que isso.


“A arte ela nos conta algo que o mundo da ciência e da técnica não pode contar. [...] A gente não pode pensar o mundo só de maneira racional, a nossa percepção do mundo, ela requer razão e requer emoção”

Prof.º Assis Filho


O convidado continuou deduzindo a importância dessa dimensão de emoção, de tal forma que ficou notória sua importância no meio técnico-cientifico por meio da necessidade de intuição, extremamente necessária para a produção de novos conhecimentos. Graciliano Ramos, Fernando Pessoa com seus heterônimos e João Cabral de Melo Neto ganharam menção nas falas do professor Assis, levantando vários pontos de reflexão e indagação a respeito de temas pertinentes à condição humana, como a empatia ao outro frente aos seus anseios como ser. Toda essa reflexão o carregou até as distopias, com citações à Admirável Mundo Novo e Fahrenheit 451.


“O romance tem que virar as pessoas, os romances que tem que ser decorados, por que os novos bombeiros queimam os livros”

Prof.º Assis Filho


Sim, sei bem

Ricardo Reis (Fernando Pessoa)

Sim, sei bem Que nunca serei alguém. Sei de sobra Que nunca terei uma obra. Sei, enfim, Que nunca saberei de mim. Sim, mas agora, Enquanto dura esta hora, Este luar, estes ramos, Esta paz em que estamos, Deixem-me crer O que nunca poderei ser.


Em suma, o encontro foi um sucesso, foi um diálogo muito rico em conhecimento para poder ter sua essência condensada em uma mera resenha, foi uma noite de êxtase. O evento inaugural foi realizado na plataforma google meet, mas criamos nosso canal no youtube para poder entregar melhor qualidade, esperamos você para o nosso próximo encontro, fique atento ao nosso instagram e se inscreve lá no canal!


Instagram: @ler.ufc

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