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Clube de Leitura (vol. 05, 2018)

No dia 17/10 nos reunimos para mais um encontro do clube de leitura do LER. Desde já agradecemos a presença dos alunos, professores e funcionários presentes. Foram lidos textos que realmente instigaram reflexões, autoanálises e proporcionaram a prática do senso crítico dos participantes.




O autor Isaac Asimov é um dos mestres da ficção científica, suas A obra mais famosa de Asimov é a Série da Fundação, também conhecida como Trilogia da Fundação, que faz parte da série do Império Galáctico e que logo combinou com a Série Robôs. Também escreveu obras de mistério e fantasia, assim como uma grande quantidade de não-ficção.


No clube lemos o texto Amor Verdadeiro, texto onde Issac explora a relação homem versus máquina, mostrando a relação entre Joe, uma espécie de programa de computador e seu desenvolvedor, Milton Davidson. Milton tem quarenta anos e nunca se casou pois está esperando pela mulher ideal. Um dia Milton decide usar Joe para encontrar a mulher perfeita.


Através de eliminações Joe vai atendendo aos comandos de Milton, eliminando aquelas mulheres que não se encaixam no perfil desejado. Assim, Joe chega a uma mulher, Charity Jones. No entanto, Milton acaba sendo preso por algo que tinha acontecido há dez anos e não conhece Charity. Sendo o texto finalizado pela frase de Joe:


Eu direi a ela:

- Eu sou Joe e você é meu verdadeiro amor.

Com a leitura o grupo se fez perguntas como até que ponto as máquinas serão submissas aos seres humanos pois elas estão cada vez mais presentes e nós estamos cada vez mais dependentes. Além disso, discutiu-se a utilização de padrões de beleza, como é demonstrado por Milton ao estabelecer um padrão de aparência para que Joe encontre sua mulher ideal, sendo que no amor, o que menos importa é a aparência.


Outro texto lido foi da grande escritora Lygia Fagundes Telles, Satanificação, que mostra os sete pecados capitais sendo identificados em ações humanas praticadas ao meio-dia em um congestionamento. Mostra de foma lúcida e verdadeira o quanto estamos mais preocupados em ter do que ser.

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A Ira, a Soberba, a Inveja, a Luxúria, a Avareza, a Gula e, finalmente a Preguiça, o sonolento Demônio do Meio-Dia- esses os Sete pecados Capitais que já podem ser identificados na satanificação, isso de acordo com o local e hora. Os diabinhos da Ira estão no trânsito, olhos injetados de fumaça e ódio, a boca espumejando no range dos dentes e freios: seis hora da tarde, Hora da Ave-Maria, lembra? Tinha um quadro que vi em várias salas de visita a minha infância: no doce colorido do crepúsculo, um grupo de camponeses bem-vestidos e rosados, as mulheres de longos aventais e toucado, os homens de sapatões rudes mas sólidos, as mãos limpas, os olhos baixos no fervor da prece por entre os montes de feno dourado. Lembro que tinha um bebezinho louro num sesto ou berço de madeira, queria ser eu aquele bebezinho, pensei na tarde em que vi numa esquina um tipo descer do carro (ao lado do meu) e verde e aumentado em sua cólera apontar um revólver para um velho que teria propositadamente amassado o seu para-lama. Hora de vítimas de desastres da fuzilaria, as armas esperando no porta-luvas, que luvas? Hora de vítimas dos assaltos, quando um carro para num sinal vermelho e outro vermelho brota do peito. Na nuca. Tinha um antigo programa de rádio nessa hora crepuscular, as músicas tão espirituais, minha mãe chamava a gente para rezar junto, só pensamentos elevados enquanto o chefe da família - mas que família? Que chefe? Os possessos da Soberba evitam aglomeração, as misturas. O horror da invasão. Dos nivelamentos. Gostam das reuniões sociais seletas mas espaçosas, onde os peitos estufados, cobertos de medalhas, iniciam a lenta dança dos pavões- poder político, poder econômico e outros poderes, varetas dos leques que se cruzam mas não se olham, o que digo? se olham para admirar a própria imagem refletida no olho do outro. Já os possessos da Inveja tem especial predileção pelos palácios burocráticos e pelos centros de artistas do Baile das Quatro Artes, ô! Deus, como sofrem os invejosos na luta competitiva à qual são condenados, os olhos cozidos como os olhos de lagostas em água fervente, Sou Caim matando meu irmão? Sou Judas traindo o meu Mestre? O invejoso só tem trégua com a infelicidade do próximo. Por quê será que no lugar desse próximo aniquilado nascem dez, vinte vencedores. Um sofrimento. De todos os pecadores, talvez o invejoso seja o que mais sofre embora os possessos da Luxúria também rodopiem sem descanso, as injúrias (era assim que a minha pajem chamava às partes baixas) açuladas e trespassadas pelos garfos dos diabinhos luxuriosos, a voz pesada, o olhar pesado - tantas ruas do prazer e o desprazer da insatisfação. Os estímulos da indústria do sexo no auge do aperfeiçoamento para o desempenho à altura e ainda a ansiedade, o desassossego, na busca que é só obsessão, Sou caçador? Ou caça? Mas essa gente não pensa noutra coisa? perguntaria tia Pombinha diante de uma banca de revistas. Pensa, sim. Pensa muito em acumular e agora as casas e cara tomam um ar respeitável, estamos entrando na rua dos bancos e dos negócios: eis a Avareza com seus demoninhos de olhos verdes umedecendo a ponta do dedo entortado de tanto contar dinheiro, medo de dar, medo de dividir. O medo dos medos: medo de perder, ih! como acumular tudo numa vida assim provisória? " Mas por que o desperdício dessa vela acesa?", reclamou o avarento que preferiu morrer no escuro. Quanto aos possessos da Gula e da Preguiça, esses se espelharam tão intensamente: os da Gula nos bairros ricos de preferência, não por virtude dos pobres mas por simples insuficiência econômica. Se a beleza (que os luxuriosos amam) virou artigo de luxo, a comida só pode ser um belo vício nos bairros de classe A. É por acaso que falo dos pecados assim juntos porque o preguiçoso nunca é um guloso. A gula exige empenho, a imaginação do apetite. Mastigar cansa e esse dispêndio de energia o preguiçoso evita, prefere papinhas, líquidos. Quando o guloso chega à saciedade e nunca está saciado (nunca está), mete o dedo na garganta, quer recomeçar tudo. Mas eis uma violência que o preguiçoso detesta: o ato de vomitar. Ou antes, que não aprecia por que ele não odeia nem ama, a paixão é laboriosa, exige fervor e o preguiçoso nunca esquenta. É morno. Não se define nem define: contorna. Na imobilidade se defende dos prazeres da cama e da mesa. No alheamento que chama de privacidade , se guarda. Música suave , que não seja solicitante. Pessoas que não façam perguntas, ele nem sequer termina as frases, os gestos. A graça das coisas incompletas no ar...Vem a mosca obumbrada, pousa na sua face e ele afasta a mosca com um movimento brando mas quando ela volta uma segunda vez ele deixa ficar deixa ficar deixar ficar..."

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Finalizando, lemos o poema Xadrez, de Jorge Luís Borges, que mostra uma analogia da vida com o jogo de xadrez:

I

No seu nobre canto, os jogadores movem as peças lentamente. O tabuleiro retém-os até à aurora num cativeiro

severo em que se odeiam duas cores.

Dentro irradiam mágicos rigores As formas: torre homérica, ligeiro cavalo, rainha armada, rei derradeiro,, oblíquo bispo e peões agressores.

Quando os jogadores tiverem partido, quando o tempo os tenha consumido, por certo não terá cessado o rito.

Foi no Oriente que começou esta guerra, cujo anfiteatro é hoje toda a terra. Tal como o outro, este jogo é infinito.

II

Tenue rei, sesgado bispo, encarniçada rainha, torre directa e peão ladino sobre o negro e o branco do caminho procuram e travam a batalha armada.

Desconhecem que a mão assinalada do jogador governa seu destino, ignora que um rigor adamantino sujeita seu arbítrio e sua jornada.

Também o jogador é prisioneiro (a frase é de Omar*) num outro tabuleiro

de negras noites e de brancos dias.

Deus move o jogador, e este a peça. Que Deus por trás de Deus a trama começa de poeira e tempo e sonho e agonias?

 

Participantes:

- Antonio Gabriel;

- Igor Ferreira;

- Anderson Sena;

- Arlen Vasconcelos;

- Eduardo Henrique;

- Davi Alex;

- Alana;

- Elias Rocha;

- Egle Maria;

- Emilly Martins;

- Mariana Campos - bolsista do projeto

- José Valtemberg - bolsista do projeto

- Professor Luis Gonzaga - coordenador do projeto

Obrigado pela presença de todos e até o próximo encontro, dia 31/10 na sala 22 do bloco 708, às 12:30!

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