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Clube de Leitura (vol.03, 2018)

No último dia 26 de setembro, ocorreu o segundo encontro do clube de leitura promovido pelo projeto Literatura Engenharia e Reflexões - LER. Na ocasião estavam presentes o idealizador do projeto, professor Luís Gonzaga, a professora do curso de Engenharia Civil, Verônica Castelo branco, os aluno de engenharia de energias renováveis Marcos Vinícius e Vanessa de Sousa, entre outros. Também estavam presentes os bolsistas Mariana Campos (Eng. Civil) e José Valtemberg (Eng . Renováveis).



Logo em seguida o professor iniciou a leitura do primeiro texto, chamado "Escravo azul", obra que fala sobre o poder da internet, do mundo tecnológico e como isso pode aproximar pessoas que estão muito distantes e até mesmo, afastar quem está perto.

 

Escravo azul

A um simples toque de minha mão, acende-se a lâmpada de Aladim. E o escravo azul cumpre-me todos os desejos, sem limitações, infinitamente todos. Leva-me ao Louvre e à Mona Lisa, sem multidões, somente Da Vinci e eu, frente a frente: o silêncio desenha o sorriso com menor mistério. Saio e, imediatamente, vou às praias do Pacífico, ou a Cumbuco, Ceará, absurdo em suas raias, vela, vida, cachaça e sol, e pulo sobre o Everest, branco e frio, velho demente atormentado por névoas eternas; desço em África, meninos magros, fome, dor demais, não quero e clico, clico, clico. Japão, cerejeiras, feira de orquídeas, haikai de Bashô, porta de Kioto. Chega. No meu canto imóvel, quero, agora, pássaros e o sonoro canto deles, tenho todos, maravilhosamente todos. Cantam azul e no bico levam o bóson de Higgs, sem colisões, sem violência, sem saber quem pensou o universo. Antes dos americanos, leio o New York Times, confiro o Financial Times, em Londres. Volto. Folha, Globo, Veja, Estado, Zero Hora. Fico sabendo das crises financeiras, dos estelionatos em derivativos, dos euros comidos pelos deuses gregos, tudo bem explicado pelos entendidos que não deram certo e tornam a explicar por quê. E de novo, sem passaporte e sem alfândega, Paris, Itália, Veneza, futebol, poetas em todas as línguas, as mesmas e lindas formas de sonhar, nos idiomas que entendo. Suponho haver igual angústia na expressão dos que não entendo, e maldigo minha ignorância limitada a poucos idiomas. Quero saber tudo sobre pulgas, e o escravo azul responde em alguns segundos, quero saber tudo sobre nuvens, chuvas, sol, furacões, tempestades, mares encapelados e calmarias, o planeta e o universo são-me entregues, submissos, dóceis, súditos obedientes, fotos, filmes, satélites, continentes, oceanos, tsunamis, expostos aos meus olhos e posso espionar a trama divina a cada instante no processo molecular da eternidade da célula tronco aos sistemas estelares em outras Galáxias. Circulo pelo espaço, esbarro em mulheres lindas, e, em alguns momentos, agridemme os necessários idiotas, estelionatários com direito a bobagens existentes em todos os tempos, que o complicado processo da vida instituiu para as pedrações da sobrevivência. Afinal, o big-bang também é idiotice moderna e em alguns séculos inteiramente absurdo aos olhos de qualquer Galileu. Clico. Entro nas universidades, colho ciências, as maravilhosas ciências, empilhadas umas sobre as outras, as mais novas, as aperfeiçoadas ontem, e minhas, a um toque. Subitamente sou um sábio universal, sei tudo, tenho tudo, vejo tudo, vou a tudo. Surpreendo-me fazendo cálculos algébricos em segundos, eu, que não sei tabuada. Pulo os tribunais. Ciência jurídica não. Mas deixa-me ver um pouquinho só. A justiça ainda existe? Dúvida que assusta. E me conformo com isso: o susto é dúvida. Súbito tilinta a campainha do FaceTime. Alguém me tira do mundo e bota a cara na minha tela para falar bobagens ou saudades depois de um rápido oi. Desligo o computador. E meu Aladim apaga a lâmpada azul. Mas fica ali, escravizado à minha espera, para que amanhã possa voltar ao meu império, que nenhum conquistador teve jamais. Nem Césares, nem Mings, Gêngis Khan, Czares, Napoleão ou otomanos sultões, tiveram poder igual ao meu.

 

Logo após a leitura do primeiro texto, iniciamos a primeiro roda de discussões sobre o texto, de onde saíram opiniões diversas. A professora Verônica levantou um ponto bastante importante, que foi o fato de as novas tecnologias por vezes, realizarem o papel oposto ao que elas deveriam cumprir. por exemplo, as redes sociais, que foram criadas justamente para aproximar pessoas, atualmente está cada vez mais causando o distanciamento das pessoas que estão próximas. Curioso né ?


Após a discussão, que diga-se de passagem foi a mais densa do encontro, muito rica de opiniões e idéias, a aluna Vanessa iniciou a leitura de outro texto, dessa vez um clássico: "Dora, esposa", texto que compõe a obra Capitães de Areia, de Jorge Amado.

 

Dora, Esposa.

Jorge Amado

O cachorro late a lua na areia. Sem-Pernas sai do trapiche, acompanha Don'Aninha através do areal. Ela disse que a febre não tardaria a ir embora. Pirulito sai também, vai chamar o padre José Pedro. Tem confiança no padre, ele pode saber um remédio. Dentro do trapiche os Capitães da Areia estão silenciosos. Dora pediu que eles fossem dormir. Se deitaram pelo chão, mas são raros os que dormem. Na paz imensa da noite pensam na febre que consome Dora. Ela beijou Zé Fuinha, mandou que ele fosse dormir. Ele não compreende bem. Sabe que ela está doente, mas não pensa um momento que ela o poderá abandonar. Mas os Capitães da Areia temem que isso aconteça. Então ficarão novamente sem mãe, sem irmã, sem noiva. Agora só João Grande e Pedro Bala estão a seu lado. O negro sorri, mas Dora sabe que o sorriso dele é forçado, é um sorriso para a animar, um sorriso arrancado à força da tristeza que o negro sente. Pedro Bala segura sua mão. Mais retirado, Professor está dobrado sobre si mesmo, a cabeça enterrada nas mãos. Dora diz:

-- Pedro?

-- Que é?

-- Chegue aqui.

Ele se aproxima.

A voz dela é um fio de voz.

Pedro fala com carinho:

-- Tu quer alguma coisa?

-- Tu gosta de mim?

-- Tu bem sabe...

-- Deita aqui.

Pedro deita ao seu lado. João Grande se afasta, chega para perto de Professor. Mas não conversam, ficam entregues à sua tristeza. No entanto é uma noite de paz que envolve o trapiche. E a paz da noite está também nos olhos doentes de Dora.

-- Mais perto...

Ele se chega mais, os corpos estão juntos. Ela toma a mão dele, leva ao seu peito. Arde de febre. A mão de Pedro está sobre seu seio de menina. Ela faz com que ele a acaricie, diz:

-- Tu sabe que já sou moça?

A mão dele pousada nos seus seios, os corpos juntos. Uma grande paz nos olhos dela:

-- Foi no orfanato...

Agora posso ser tua mulher. Ele a olha espantado:

-- Não, que tu tá doente...

-- Antes de eu morrer. Vem...

-- Tu não vai morrer.

-- Se tu vier, não.

Se abraçam. O desejo é abrupto e terrível. Pedro não a quer magoar, mas ela não mostra sinais de dor. Uma grande paz em todo seu ser.

-- Tu é minha agora fala ele com voz agitada. Ela parecia não sentir a dor da posse. Seu rosto acendido pela febre se enche de alegria. Agora a paz é só da noite, com Dora está a alegria. Os corpos se desunem. Dora murmura:

-- É bom... Sou tua mulher.

Ele a beija. A paz voltou ao rosto dela. Fita Pedro Bala com amor.

-- Agora vou dormir -- diz.

Deita ao lado dela, segura sua mão ardente. Esposa. A paz da noite envolve os esposos. O amor é sempre doce e bom, mesmo quando a morte está próxima. Os corpos não se balançam mais no ritmo do amor. Mas nos corações dos dois meninos não há mais nenhum medo. Somente paz, a paz da noite da Bahia.

Na madrugada, Pedro põe a mão na testa de Dora. Fria. Não tem mais pulso, o coração não bate mais. O seu grito atravessa o trapiche, desperta os meninos. João Grande a olha de olhos abertos. Diz a Pedro Bala:

-- Tu não devia ter feito...

-- Foi ela que quis

-- explica e sai para não rebentar em soluços.

Professor se chega, fica olhando. Não tem coragem de tocar no corpo dela. Mas sente que para ele a vida do trapiche acabou, não lhe resta mais nada que fazer ali. Pirulito entra com o padre José Pedro. O padre pega no pulso de Dora, bota a mão na testa:

-- Está morta. Inicia uma oração.

E quase todos rezam em voz alta.

-- Padre nosso que estais no céu...

Pedro Bala se lembra das rezas à noite no reformatório. Seus ombros se encolhem, tapa os ouvidos. Volta-se, vê o corpo de Dora. Pirulito pôs uma flor roxa entre seus dedos. Pedro Bala rompe em soluços. Veio a mãe-de-santo Don'Aninha, veio também o Querido-de-Deus. Pedro Bala não toma parte da conversa. Aninha diz:

-- Foi como uma sombra nesta vida. Vira santa na outra Zumbi dos Palmares é santo dos candomblés de caboclo, Rosa Palmeirão também. Os homens e as mulheres valentes viram santo dos negros...

-- Foi como uma sombra... -- repete João Grande.

Foi como uma sombra para todos, um acontecimento sem explicação. Menos para Pedro Bala, que a teve. Menos para Professor que a amou. Padre José Pedro fala -- Vai pro céu, não tinha pecado. Não sabia o que era pecado... Pirulito reza. Querido-de-Deus sabe o que esperam dele. Que leve o cadáver no seu saveiro e o jogue no mar, adiante do forte velho. Como poderá sair um enterro do trapiche? É difícil explicar tudo isso ao padre José Pedro. O Sem-Pernas o faz numa voz apressada. O padre a princípio se horroriza. É um pecado, ele não pode consentir num pecado. Mas consente, que não vai denunciar onde moram os Capitães da Areia. Pedro Bala não fala. Em torno é a paz da noite. Nos olhos mortos de Dora, olhos de mãe, de irmã, de noiva e de esposa, há uma grande paz. Alguns meninos choram. Volta Seca e João Grande vão levar o corpo. Mas, parado ante ele, está Pedro Bala, imóvel. Volta Seca não pode estender as mãos. João Grande chora como uma mulher. Don'Aninha toma do braço de Pedro, tira-o dali e envolve o corpo de Dora numa toalha branca de rendas:

-- Vai para Yemanjá -- diz.

-- Ela também vira santo... Mas ninguém pode levar o cadáver. Porque Pedro Bala está abraçado com ele, não o larga. Professor o chama:

-- Deixa.

Eu também gostava dela. Agora...

Levam-na para a paz da noite, para o mistério do mar. O padre reza, é uma estranha procissão que se dirige na noite para o saveiro do Querido-de-Deus. Do areal, Pedro Bala vê o saveiro que se afasta. Morde as mãos, estende os braços. Voltam para o trapiche. A vela branca do saveiro se perde no mar. A lua ilumina o areal, as estrelas tanto estão no céu como no mar. Há uma paz na noite. Paz que veio dos olhos de Dora.

 

Sem dúvidas essa leitura emocionou a todos e gerou algumas reflexões a respeito de Dora, que como mulher, assumia seu valor e se mostrava como uma mulher forte, que mesmo diante de todo o preconceito de uma sociedade machista, e mesmo tendo sofrido certa resistência para entrar no grupo na qual estava inserida, até então composto apenas por homens, mostrou seu poder e morreu sendo amada por todos e mostrando o verdadeiro valor de uma mulher.

 

Perdoando Deus

Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade. Não era tour de propriétaire, nada daquilo era meu, nem eu queria. Mas parece-me que me sentia satisfeita com o que via. Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho, mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo isso “fosse mesmo” o que eu sentia – e não possivelmente um equívoco de sentimento – que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo, e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre. E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmesurado de ratos. Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro como eu o admito e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa e raiva. Então era assim?, eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui decepcionada. Continuei andando, procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança poderia eu contra um Deus Todo-Poderoso, contra um Deus que até com um rato esmagado podia me esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia encará-Lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava, qual seria a coisa onde Ele mais estava e que eu, olhando com raiva essa coisa, eu O visse? no rato? naquela janela? nas pedras do chão? Em mim é que Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais. Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de Alguém, e depois contar os segredos, mas vou contar – não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele – mas vou contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o que Ele fez, vou estragar a Sua reputação. . .mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato. Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de “mundo” esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que “Deus” é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.

– Clarice Lispector, no livro “Felicidade clandestina”.


 

Lido pelo professor Luís, o poema "Perdoando Deus" também foi discutido e gerou muitas reflexões a respeito do fato de a personagem estar feliz até ser contrariada.


O encerramento do encontro deu-se com a leitura do pema "A ventania" de "O livros dos abraços", Eduardo Galeano.

 

A ventania, de Eduardo Galeano.

Assovia o vento dentro de mim. Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara.

 

Gostou ? Participe do próximo ! Acontecerá dia 10/10 no bloca da Engenharia Civil sala 22. Te encontro lá :)

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