Cazuza - Preciso dizer que te amo
Intitulado Cazuza, Preciso Dizer que Te Amo (todas as letras do poeta) o livro foi lançado em 2001, pela editora Globo. A partir de materiais cedidos e organizados por Lucinha Araújo, mãe do cantor, o livro foi escrito por Regina Echeverria (com a colaboração do jornalista Mauro Ferreira).
Agenor de Miranda Araújo Neto (Rio de Janeiro, 4 de abril de 1958 — Rio de Janeiro, 7 de julho de 1990) mais conhecido como Cazuza, em sua vida rápida e explosiva, revolucionou a música brasileira da década de 1980. Perpassando por vários gêneros musicais a música de Cazuza ainda persiste e é considerada por muitos uma das grandes vozes de sua geração. Ele cantou a solidão, a diversão, o amor, sua ideologia, sua geração, sua música e seus poemas.
Cazuza era fã de Cartola, Lupicínio Rodrigues, Dalva de Oliveira e Maysa que foram uma espécie de inspiração para suas melodias melancólicas. Outras influências foram Janis Joplin, Jimi Hendrix, Billie Holiday e a literatura, principalmente no que se refere a Rimbaud, Kerouac, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector, essa última inclusive, influenciou algumas das letras do compositor.
O livro traz toda a obra de Cazuza na forma de letras, manuscritos e poesias, além de contar com várias fotografias e relatos de amigos e parceiros musicais, assim como depoimentos do próprio artista. O trabalho reúne uma pesquisa de Lucinha Araújo e seu resultado é a publicação completa de 205 letras e poesias feitas por Cazuza, sendo dessas 78 nunca publicadas (das 78, 65 não estavam musicadas até o lançamento do livro). O livro registra de maneira cronológica, toda a produção do artista, desde o primeiro disco do Barão Vermelho até suas últimas composições, já doente.
Existe atualmente um projeto para a divulgação dessas músicas inéditas em disco onde algumas letras seriam musicadas. Espera-se que os cantores Nando Reis, Caetano Veloso, Bebel Gilberto, Rogério Flausino, Wilson Sideral, entre outros, participem do projeto.
O livro inicia-se com o depoimento do pai de Cazuza, o produtor musical João Araújo. Em seu depoimento João Araújo relata parte do processo criativo do filho, que costumava se trancar no quarto para compor. Comenta também a surpresa, na época, de não existirem questionamentos sobre o motivo da carreira de seu filho ter começado na Som Livre (onde João Araújo trabalhava) creditando a isso a profundidade das letras de Cazuza e sua forma de cantar e se expressar musicalmente, acabando com qualquer possibilidade de questionamentos.
No fim do livro há o depoimento de Lucinha Araújo, que relata com sinceridade os embates, dúvidas e dificuldades na educação de seu filho, que ela mesma chama “rebelde”. Conta também os motivos que a levaram a tentar publicar o livro e comenta com carinho da Sociedade Viva Cazuza que presta assistência a crianças e adolescentes carentes portadoras do vírus HIV.
O Barão Vermelho
Cazuza descobriu o rock e seu expressionismo no Barão Vermelho. Conheceu o sucesso, foi influenciado e se influenciou. Ganhou seu primeiro disco de ouro. Em depoimentos, vemos o relato da censura da década, que não impediu o grupo de se expor, como é o caso da música Posando de Star, que teve trechos censurados, mas era apresentada em sua forma original, sem nenhum pudor. No Barão, Cazuza conheceu um de seus maiores parceiros musicais, Roberto Frejat. O grupo encantou os jovens com seu rock bem arranjado e suas letras bem produzidas, com sua a forma de expor e gritar ideias. Mas, em 1984 Cazuza gravou seu último disco ao lado dos companheiros do Barão. No ano seguinte partiria em carreira solo.
Cazuza, o exagerado
Em 1985, Cazuza deixava o Barão Vermelho para seguir em carreira solo. Em agosto do mesmo ano, o cantor foi internado para tratar de uma grave pneumonia. Foram realizados testes a fim de detectar uma possível infecção por HIV, a pedido do próprio Cazuza, mas o exame deu negativo. Em sua carreira solo ele incorporou um estilo musical mais pessoal e introspectivo, misturando samba, bossa nova, MPB e rock. Dizia que não tinha preconceito de gêneros musicais, cantava todos os ritmos, cantava música e poesia. Nessa fase de sua carreira intensificou as parcerias musicais, foram inúmeras ao longo da vida.
Dentre seus sucessos musicais em carreira solo, destacam-se "Exagerado", "Codinome Beija-Flor", "Ideologia", "Brasil", "Faz Parte Do Meu Show", "O Tempo Não Para" e "O Nosso Amor a Gente Inventa".
Em meio aos grandes sucessos musicais, em um ano repleto de êxitos, Cazuza começou a mostrar suas primeiras crises decorrentes da doença em 1987. Tentou vários tratamentos, viajou para o exterior em busca de avanços medicinais enquanto continuava compondo. Cazuza lançou então Ideologia (1988) “um disco estupendo” foi nessa época então que sua pressa começou. Parece que o letrista queria se expressar de todas as formas, foi a sua fase de mais intensa produção, Cazuza não queria partir deixando algo não dito. Sua criatividade, seu talento e suas lições deixaram versos para o infinito.
E com toda sua pressa, compôs furiosamente e lançou em 1989 seu último disco em vida, Burguesia, mesmo enfraquecido. O álbum duplo começou a ser gravado logo depois de Cazuza receber alta. Foi o ano também de seu último show. Em julho de 1990 Cazuza morreu em decorrência de complicações causadas pela AIDS.
O livro com traços e aspectos de biografia, não deixa de ser, porém, uma leitura prazerosa. É para ler, cantar e conhecer um pouco mais sobre o compositor. Para quem conhece o cantor é ainda uma forma de entender suas inspirações, suas parcerias e sua vida. É quase um documentário.
Algo que me chamou bastante atenção e que é um ponto bastante positivo é o final de cada capítulo, intitulado “no tempo de Cazuza”. Com pequenos relatos temporais e cronológicos que narram o Brasil e o mundo daquela época (em aspectos políticos, sociais, econômicos, esportivos, musicais e culturais) nos deixando relacionar a carreira de Cazuza com o mundo exterior e nos ajudando na compreensão e no entendimento da geração de 80 e da juventude daquele tempo (principalmente para aqueles que não viveram na década de 1980, como eu).
O livro é um relato, um relato da vida boêmia e polêmica do letrista, mas não se engane, percebe-se que Cazuza era sensível, extremamente sensível. Cazuza era acima de tudo uma alma poeta.
Abaixo vídeo da música Exagerado - Cazuza, 1985
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