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  • Rayssa Carneiro

Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século


Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século é uma antologia poética publicada pela primeira vez em 2001. Ao longo do livro podemos ler 100 poemas brasileiros do século XX que são considerados representativos, por Ítalo Moriconi, da arte da escrita brasileira. A seleção é sem dúvidas bastante representativa da produção poética nacional e permite a nós leitores uma ótima compilação da poesia brasileira no século XX .


A antologia foi feita por Italo Moriconi um professor, editor, poeta e escritor carioca. O organizador nos relata em sua introdução para o livro os critérios de escolha dos poemas que fazem parte do volume e define um pouco o processo de pesquisa e seleção Como o próprio autor afirma, o principal critério utilizado foi a "essencialidade do poema", ou seja, "a capacidade de um poema ser exemplar dentro do seu gênero específico".


A obra é dividida em quatro partes, organizadas cronologicamente. A “Primeira Parte – Abaixo os Puristas” é basicamente uma ênfase à geração modernista de 1922 com ocorrência de textos mais antigos. A “Segunda Parte – Educação Sentimental” também se dedica a textos da geração modernista e juntamente com a “Terceira Parte – O Cânone Brasileiro” concentra, segundo o organizador, as poesias mais marcantes e memoráveis entre as produzidas pelos poetas brasileiros, mostrando que a poesia brasileira, em seus momentos mais marcantes, pode ser tão exuberante como a de qualquer outra parte do mundo. A “Quarta Parte – Fragmentos de um Discurso Vertiginoso” encerra a seleção e corresponde a uma expressão de uma aposta para a poesia brasileira dos próximos anos baseada nas suas influências e nos movimentos literários do período final do século XX.


Ao longo da leitura não pude deixar de perceber o fato de que na poesia, e em outros gêneros, as experiências pessoais do leitor até o momento da leitura do texto são essenciais para sua interpretação e, não deixei de pensar se o nome “Cem melhores poemas” seria realmente o adequado, tendo em vista que, como dito, a interpretação e a opinião são essenciais na leitura e análise de um texto. Ou seja, para cada olhar e para cada pessoa haverá uma interpretação diferente, e a definição de "melhores poemas" que por si só já evoca uma espécie de classificação que, por ser fruto de uma experiencia pessoal, pode e deve ser diferente para cada indivíduo. Apesar disso, considero que os poemas foram bem selecionados e creio que essa antologia pode expressar de forma prazerosa a natureza diversa dos poemas brasileiros.


Deixo aqui então a recomendação de um livro de poesias para aqueles que apreciam o gênero e também para aqueles que desejam conhecer um pouco mais da poesia brasileira, seja de forma mais profunda ou de maneira despretensiosa. São poemas com certeza clássicos e atemporais.


Escolhi alguns textos entre os cem que considero interessantes, posso afirmar que foram vários, deixarei aqui apenas alguns para dar uma ideia dos poemas selecionados.


Primeira Parte – Abaixo os Puristas

Poema de Sete Faces

Carlos Drummond de Andrade

Quando nasci, um anjo torto Desses que vivem na sombra Disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida

As casas espiam os homens Que correm atrás de mulheres A tarde talvez fosse azul Não houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernas Pernas brancas pretas amarelas Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração Porém meus olhos Não perguntam nada

O homem atrás do bigode É sério, simples e forte Quase não conversa Tem poucos, raros amigos O homem atrás dos óculos e do bigode

Meu Deus, por que me abandonaste Se sabias que eu não era Deus Se sabias que eu era fraco

Mundo mundo vasto mundo Se eu me chamasse Raimundo Seria uma rima, não seria uma solução Mundo mundo vasto mundo Mais vasto é meu coração

Eu não devia te dizer Mas essa lua Mas esse conhaque Botam a gente comovido como o diabo

Segunda Parte – Educação Sentimental

Emergência

Mario Quintana

Quem faz um poema abre uma janela. Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo - para que possas profundamente respirar. Quem faz um poema salva um afogado.

Motivo

Cecília Meireles

Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, - não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: - mais nada.

Terceira Parte – O Cânone Brasileiro

Tecendo a Manhã João Cabral de Melo Neto Um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro: de outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzam os fios de sol de seus gritos de galo para que a manhã, desde uma tela tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.

A educação pela pedra João Cabral de Melo Neto

Uma educação pela pedra: por lições; para aprender da pedra, freqüentá-la; captar sua voz inenfática, impessoal (pela de dicção ela começa as aulas). A lição de moral, sua resistência fria ao que flui e a fluir, a ser maleada; a de poética, sua carnadura concreta; a de economia, seu adensar-se compacta: lições da pedra (de fora para dentro, cartilha muda), para quem soletrá-la.

* Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática). No Sertão a pedra não sabe lecionar, e se lecionasse, não ensinaria nada; lá não se aprende a pedra: lá a pedra, uma pedra de nascença, entranha a alma

Quarta Parte – Fragmentos de um Discurso Vertiginoso Com licença poética Adélia Prado Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou tão feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos -- dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.

rápido e rasteiro

Chacal

vai ter uma festa que eu vou dançar até o sapato pedir pra parar.

aí eu paro tiro o sapato e danço o resto da vida.





É isso, até a próxima!







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