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  • Dalila Almeida

O Fim de Semana - Bernhard Schilink



Como, legalmente falando, podemos culpar alguém do que fez se, quando fez era dentro da lei o ato?

O Fim de Semana é da mesma autoria de O Leitor, Bernhard Schilink. Li primeiro O Leitor (tem resenha aqui, hein!) acho que isso me deu confiança para ler O Fim de semana. Assim como em O Leitor, neste, os acontecimentos se passam no pós-guerra. Essas são duas leituras que me foram muito agradáveis fazer, construtivas também. A formação e atuação profissional do autor contribui muito para o estilo de sua escrita (ele é professor de Direito e Filosofia na Universidade Humboldt, Alemanha); de forma sucinta, ele apresenta aos leigos no assunto os desafios da construção historiográfica.

Sobre O Fim de Semana, a narrativa apresenta a seguinte situação: depois de vinte anos preso acusado de homicídio, Jörg, é liberto. Sua irmã decide recebê-lo com um encontro entre amigos. Um fim de semana com os velhos amigos que militaram juntos outrora. Mas o que deveria ser algo agradável, mostrou-se como um fiasco. Assim como em O Leitor, aqui, o autor nos deixa se sentir como juízes da história; em guerra, é realmente tudo válido? O encontro põe em xeque questões como essas, de “certo” e “errado”.

Cada personagem com suas peculiaridades e com as mudanças que o tempo os proporcionou torna o ambiente propício a dissensos. Cristiane, a irmã superprotetora; Ilse, a mocinha insegura que sonha em ser escritora, mas que ganha a vida dando aulas; Marko, o revolucionário inconsequente; o próprio Jörg, inseguro e profundamente marcado por suas experiências; Henner, o jornalista que quer ter em primeira mão uma entrevista com Jörg; Karin, que é pastora e que vai passar boa parte do tempo tentando apaziguar situações embaraçosas que surgem; Ulrich, o empresário bem-sucedido que quer a todo momento deixar isso claro, e esquecer o período que agiram juntos na adolescência; e Andreas, advogado que quer decidir os próximos passos a serem dados por Jörg.

A eficácia do sistema carcerário no tangente a preparar os reclusos para serem reinseridos na sociedade foi uma deixa do enredo que me chamou atenção: “O Jörg fez besteira, pagou por isso e agora está tudo bem e ele deve retomar as rédeas de sua própria vida. Não será fácil. Se ele não aprendeu naquela época como se trabalha e como se lida com gente e se vive em paz com o mundo, como é que vai saber agora? Não acredito que alguém aprenda isso na prisão, o que você acha?”.

Um trecho que me chamou a atenção foi “Melhor viver na prisão do que morrer em liberdade?”, esse questionamento é apresentado por um dos amigos fazendo menção à idade já avançada do protagonista, que agora liberto, tem de começar sua vida do zero. Me remeteu a um trecho da obra A Bagaceira de José Américo de Almeida: “existe uma miséria maior que morrer de fome no deserto; é não ter o que comer na terra de Canaã”. Com o andar da carruagem já tão adiantado, seria mesmo a melhor coisa voltar para o mundo, sem uma garantia de nada?

O autor aborda também o limite do público e o privado, o que Jörg deve ou não declarar a imprensa, que aguarda por um posicionamento dele. O que pode comprometer e o que pode lhe servir de guarita nesses primeiros passos? Valeria a pena fazer esse posicionamento?

O que você faria se tivesse a chance de retomar sua vida deixando tudo o que conquistou até aqui, todas as pessoas que convivem contigo, seu emprego, seu estilo de vida, seu lugar...? Você recusaria ou pularia de olhos fechados e braços abertos? Assim como algumas pessoas que estavam no World Trade Center no dia 11 de setembro de 2001? Pularam impulsionadas pelo desespero, pelo calor insuportável que sentiam lá dentro, se suicidaram pelo medo de morrer. Esse pensamento serviu de inspiração para Ilse, uma das amigas, alimentar seu desejo de adolescente: o de se tornar escritora. Na época do atentado ela buscou o máximo que pôde informações sobre “os corpos cadentes”, (as imagens são marcantes, realmente).

Na concepção dos que o rodeiam, tudo isso tem extrema importância para Jörg. Mas, assim como em O Leitor, Bernhard Schilink nos surpreende com o desfecho da narrativa.


 

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